05 julho 2011

Um Dia de Cao Para Rick Pinheiral



- Alo! Me passa o Rick Pinheiral, por favor, urgente - disse Koyanicovz a secretaria.

- Pra ja doutor: - dr. Rick, dr. Rick, aqui, ligaçao urgente do dr. Koyanicovz. 

- Fala, Koyanicovz! Ta querendo me matar do coraçao... Que urgencia eh essa, homem!

- Um advogado do Rio acaba de te denunciar. Ja tomamos o depoimento dele. Voce tem que vir agora na Corregedoria. Ele ta aqui. Vamos fazer um termo de  reconhecimento com voces dois frente a frente.

Rick Pinheiral gelou. Deixou a esplanada num atimo e chegou na Corregedoria em menos de dez minutos. 

O advogado que o denunciara era do banco Calculo Vetorial. Dizia que, fazia uma semana, Pinheiral tinha-o procurado no Rio, oferecendo vantagens numa futura decisao da Receita, de interesse do banco. Sou Secretario-ajunto e tenho grande influencia na Coffiz, orgao que vai decidir. A gente podia negociar isso - o advogado revelou  ter ouvido da boca de Rick Pinheiral.   

Naquele momento, a  secretaria de Koyanicovz anunciava a chegada de Rick. 

- Pode entrar - autorizou o Corregedor.

No gabinete estavam o denunciante, Koyanicovz e M. Leon. Um clima de suspense calou a todos,
naqueles segundos que antecediam o encontro decisivo. 

Quando entrou, Rick tinha os cabelos desgrenhados, como se tivesse vindo correndo a pe. A camisa, metade pra dentro, metade pra fora, empapuçada de suor, reforçava essa impressao. Maos e boca tremulas.  M. Leon tinha receio de que o homem caisse duro. Todos pareciam torcer para que Rick se mantivesse em pe e respirasse.  

 Nesse ponto, deve-se alertar que nao se aplica o lugar-comum quem nao deve nao teme. Coloque-se o leitor no lugar de Rick. Nao se sabe quantos poucos da nossa especie,mesmo com nervos de aço, manteriam a impavidez nessa hora.    

Apos alguns fartos segundos, concedidos pra Rick retomar o folego, Koyanicovz apresentou denunciado e denunciante um ao outro. Nao houve aperto de maos nem o classico: muito prazer.   

 O advogado mirava Rick fixamente, sem desviar os olhos.

Foi quando Koyanicovz quebrou o silencio:

- O doutor reconhece essa pessoa como quem o procurou no Rio ...

- Nao - respondeu o advogado. Ele eh inocente.

Foi a redençao para Rick Pinheiral, como se tivesse emergido a superficie das aguas novamente.

E prosseguiu o advogado: - Quem esteve comigo nao tinha barba, e o senhor me perdoe, nao era gordo. Era mais alto, moreno e tinha cabelo de negrao. Me desculpe o  transtorno, pode respirar, que o senhor ta com os nervos saltando.

- To liberado senhores...

- Ta sim, respondeu Koynicovz.

- Entao ate a proxima! - disse Rick, com sua verve de piadista, mostrando que ja recuperava o controle motor. 

M. Leon ficou pensando nos pequenos enganos pelos quais os homens morrem.



Os nomes constantes neste texto sao ficticios. Portanto, eventual igualdade com nomes de  pessoas reais tera sido mera coincidencia.

3 comentários:

Carlos disse...

Infelizmente não tive a mesma sorte que o Rick Pinheiral. Sob sua ordem, mesmo não havendo evidência alguma que me envolvesse em qualquer ato delituoso sofri um processo administrativo por longos e inesquecíveis 8 meses da minha vida. Não tenho dúvidas em afirmar que foi o mais negro da meus 41 anos já transcorridos. Não havia qualquer evidência e tampouco qualquer lógica que levasse à abertura do processo administrativo. Esta medida, inclusive, atrapalhou o andamento das atividade do setor em que eu atuava, já que minhas senhas foram suspensas no período de investigação. Para evitar o procedimento, bastava que fosse feito o mesmo com o Rick Pinheiral, chamar o denunciante para que ele me reconhece (ou alternativamente tomar uma dose de 51, se é que se lembra), infelizmente isso só foi feito muito tempo depois no curso do procedimento administrativo. Mas, embora inocentado com uma ampla gama de provas, ficou a marca indelével que jamais esquecerei. Só para vc ter uma idéia até hoje guardo cópia do PAD e vez em quando leio ele para se lembrar da injustiça (sim, para um servidor honesto o simples processo já é uma penalidade) a que fui submetido. Nunca esquecerei nem do seu nome e nem daqueles terríveis 8 meses. Mas não tenho nem mágoa e nem rancor e desejo lhe tudo de bom assim como espero que um dia possa recuperar a sua plena saúde. Abraço.

Moacir Leão disse...

Carlos,
Muito obrigado, especialmente pelas palavras finais de sua mensagem - que bem demonstra uma grandeza de espirito. Nao sei onde voce trabalha na Receita, nem vou-lhe perguntar, pois compreendo que prefira manter algum sigilo.
Quanto a afirmaçao de ter respondido inquerito sob ordem minha, creio que voce foi enganado. Nao se da ordem a ninguem para abrir ou encerrar inquerito. Porque esse eh um caso de exame e convencimento intimo da autoridade que examina a possivel irregularidade. Assim, como corregedor-geral, nunca dei ordem anenhum chefe local da corregedoria para abrir ou encerrar inquerito. A proposito, veja o post Terror e Perseguiçao na Receita Federal. Quem quer que tenha lhe dito que abriu processo sob ordem minha faltou-lhe com a verdade. Os processos que entendi deviam necessariamente ser instaurados, instaurei-os eu mesmo. Tampouco dei ordem verbal dessa gravidade. nos treinamentos ao novos fiscais, sempre enfatizei que determidas ordens somente devem somente dar-se por escrito. Que bom voce ter guardado copia do processo.Em retorno a esse comentario, pediria que voce verificasse bem onde esta uma ordem minha determinando abrir o processo a que se refere. KNo mais, obrigo-me a concordar com voce, pois um inquerito eh um suplicio na vida de um servidor honesto como voce, Carlos. O mesmo nao acontece com os corruptos, que respondem aos processos sem o sentimento da injustiça e do absurdo, dado que bem sabem o que fizeram. Por ultimo, senti uma sinceridade em suas palavras, que sinto-me obrigado a prosseguir no assunto, nao para defender-me. mas para conhecer a verdade a que voce tem direito, apos tudo que se passou.
respeitosamente.

Carlos disse...

Hoje não sou mais servidor da RFB, sou Agente Fiscal no seu estado natal.
Infelizmente, é verdade, em que pese o fato de ter sido uma denúncia feita ao Sr. lastforever sem maiores detalhes, você, na condição de COGER substituto, determinou a abertura do processo (10167.000010/01-95) através da Portaria COGER nº 5, de 12 de janeiro de 2001, às fls 11 do referido processo, assinada por você, portanto uma determinação (ordem) sua. À epoca dos fatos, eu era servidor da DRF/RPO.
A denúncia era que alguém da RFB estava "vendendo" a informação de PNU para a empresa em questão. Ao pesquisar os acessos, constatou que fui uma das pessoas que acessou os dados da empresa e foi comprovado posteriormente que o acesso foi plenamente motivado. Entretanto, a pesquisa que fiz jamais traria como resposta o PNU e uma singela análise técnica pouparia a mim e à minha família de 8 meses de dissabor.Se também tivesse sido me dado a oportunidade que teve o Rick Pinheiral, me colocando frente a frente com o denunciante, certamente o PAD não teria sido aberto.
Felizmente, depois de muito tempo, superei isso tudo e tive a honra de antes de me exonerar da RFB de receber prêmio de desempenho funcional pela GRA/MG e uma portaria de elogio que constou nos meus assentos funcionais.
Mas mesmo com a superação do fato, não posso negar que tal fato marcou muito minha vida profissional e principalmente, profissional.
Sinto-me aliviado por poder estar te falando isso, apenas quis lhe mostrar que por traz de um ato administrativo e de uma matrícula funcional, há um homem, um profissional, um esposo, um pai de família, um filho de lavrador que perdeu o pai quando tinha 4 anos, um filho de uma cozinheira que lutou muito para se formar e conquistar um bom emprego.
Sempre esperei que um dia tivesse oportunidade de lhe dizer isso e sinceramente, não gostaria que fosse nas atuais circunstâncias a que você está submetido.
Volto a frisar que, apesar de todo o mal que me causaste, não guardo rancor, ao contrário, torço por sua plena recuperação e a partir de hoje, embora minha religiosidade não seja tão efetiva, que lembrarei de você em minhas orações, torcendo para que tenha a força necessária para superar a moléstia que o acomete. Grande e forte abraço!