25 julho 2011

Como Nao Entrar Numa Fria Trabalhando Entre Os Medonhos

Se  quiseres debater comigo, define os teus termos - dizia Voltaire. Atendendo a chamada do maior polemista frances, ja vou logo definindo que medonho nao eh necessariamente um corrupto. Seria um conjunto maior, a conter o conjunto dos corruptos e ainda outros, de menor periculosidade, mas diante de quem nao se deve abaixar a guarda. Sao alguns chefes malandros, que dao ordens verbais e na hora do aperto sao acometidos de subita amnesia. Em geral, o malsucedido ocorre numa situaçao que pressiona o servidor, levando-o a esquecer a trilha mais apertada em que anda, limitada pelo Direito Publico, onde so eh tolerado fazer o que a lei autoriza. 

Um exemplo do que venho de dizer. Imaginem a seguinte manchete nas revistas semanais, nos jornais e nas teves:  Funcionarios da Alfandega do porto de V.  recebiam propina de importadores.

 As manchetes eram por conta de dezenas de analistas que recebiam nas suas contas bancarias depositos regulares dos importadores.  

O dr. Lastforever dizia a Koyanicovz: Quero ver todo mundo na rua. Mas havia um problema. Todos os Analistas eram inocentes, como ficaria comprovado no inquerito presidido por M. Leon, acompanhado do Analista Joseph Caixet e do Auditor-Fiscal Paulus Valerio.   

Os Analistas haviam recebido ordem do inspetor Ednardo para proceder como fizeram. Nesse caso, so eh punivel o autor da ordem.  E o inspetor, a seu turno, tinha a aprovaçao do Superintendente e do Secretario para dar a ordem que deu.
 
Tudo começou com uma situaçao que pressionava a alfandega, com a chegada de milhares de veiculos ao porto de V. Tiveram que multiplicar por 50 o ritmo de trabalho, mantido constante o numero de funcionarios. Para dar conta da enxurrada da veiculos, viram-se obrigados a avançar em trabalhos noturnos e nos finais de semana. Tambem alfandegaram varios locais na cidade, ate terrenos baldios, para armazenar a frota imensa que nao parava de chegar. Era coisa de louco! 

Os importadores faziam uma pressao tremenda, pois a alfandega havia se transformado num estorvo para os negocios, por nao dar conta do volume centuplicado:

- Bom dia Superintendente. Olha, estou a ponto de largar isso aqui. A Alfandega vai ter que trabalhar 24 horas e nos fins de semana - disse o inspetor.

- Certo, certo.

- Certo nada. Nao tem previsao legal de pagar horas extras. Como eh que faço o pessoal trabalhar 24 horas, de domingo a domingo...


- Dificil realmente. Ta complicado.

- Os importadores tao querendo a pagar horas extras e adicional noturno pra todas as equipes.

- Huummm.

- No tempo em que se amarrava cachorro com linguiça, tinha uma lei que autorizava o fiscal a receber diarias do importador.   

- Sei, sei, eh do meu tempo.

- O que voce acha, chefe...

- Acho que eh por ai. De graça ninguem trabalha.

O inspetor mandou brasa. Chamou os importadores, e combinou o valor da hora extra. Definiu as equipes, que faziam rodizio. Recebeu em visita  o Superintendente e o Secretario, que foram juntos ver o milagre in loco

Quando se viu diante do inquerito, sozinho, acusado de dar ordem ilegal, o inspetor defendeu-se:

- Assim como eu sou chefe dos Analistas e dos Fiscais, o  Superintendente e o Secretario sao meus chefes, e os dois me autorizaram.

A comissao de inquerito intimou o Superintendente e o Secretario a prestar depoimento. Nehum deles apareceu. Como ja haviam deixado os cargos, e por estarem aposentados, nao estavam mais obrigados a atender a intimaçao.

Seria caso de demissao, se o inspetor nao tivesse agido de boa fe. Nos autos do processo ele apareceu como quem criou e implementou tudo sozinho:

- Podem escrever ai: os dois sao covardes e fdp! - disse indignado.

O inspetor levou uma suspensao de 90 dias.

E assim terminou uma conturbada historia, que a todos nos deixou uma liçao: em alguns casos, o memorando eh bem melhor do que o telefone.  Ou, ainda antes, como ensinava o brilhante Corregedor Koyanicovz:

- Se nao da pra fazer, nao faz.


Todos os nomes constantes neste texto sao ficticios. Qualquer semelhança com nomes de pessoas reais tera sido mera coincidencia.
 

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