30 janeiro 2012

O Corrupto Que Se Fazia De Louco

Esta eh a historia de um fiscal corrupto de Sao Paulo que, apos ser denunciado e colocado num inquerito pela corregedoria, houve por bem se fazer de doido, visando a obter a condiçao de inimputavel. Seria nao a avidez pela grana, mas psicose pura que o teria conduzido pelos desvaos da imoralidade, mais exatamente levando-o a agir no varejo da propina. Fred era o homem. Cabelos desgrenhados e olhos esbugalhados mirando em algum ponto da parede, quando acompanhava o inquerito.

Fred havia juntado ao processo disciplinar algumas declaraçoes de especialistas, dando conta de que ele seria, ao tempo dos fatos, incapaz de distinguir entre o certo e o errado, entre o bem e o mal etc. E como nada disso parecesse convencer a comissao processante, Fred decidiu apelar ao extremo. Seria, por assim dizer, a ultima cartada, encerrando o jogo, com a rendiçao do trio disciplinar ao fato de que ele era mesmo louco de pedra.

Aconteceu numa manha. Apos desconstituir mediante uma surra a advogada e esposa, o candidato a louco foi ter com o presidente da comissao que o investigava, o Auditor-Fiscal Arnold. Quando Arnold estendeu a mao para cumprimenta-lo, o corrupto deu-lhe um violento murro no rosto. E engalfinhou-se numa luta com o investigador, somente sendo apartado pelos seguranças. Nesse interim foi chamada a policia. Fred foi detido e enquadrdo pelo delegado em obstruçao no curso do processo, que vem a ser ilicito inafiançavel. Como resultado da farsa malsucedida, Fred virou chave de cadeia. Depois dançou. 

25 janeiro 2012

Vaidade das Vaidades!





Era aparentemente uma comissao de inquerito como qualquer outra. Era! Ate que o trio tivesse o primeiro encontro. Encontraram-se na rodoviaria de Brasilia. Eram uma Auditora e dois Auditores, todos vindos de Goias. A Auditora foi a primeira a chegar. O presidente do colegiado chegaria trinta minutos apos e avistou a colega no lugar combinado. 


- Vamos esperar o Valdomiro. Ele ja ta chegando.
- To cansada!
- Quinze minutinhos, e ele ta aqui. A gente racha o taxi.
- (!)


Foram-se os quinze minutinhos, e nada do Valdomiro. Veio mais uma hora, e nada do homem. A Auditora Maria Geralda cochilava, quando o onibus de Valdomiro estacionou. Fonteles bateu no ombro de Geralda.


- Miro chegou. Simbora.


Geralda olhou o relogio bocejando:


- Voce me fez esperar mais de hora!
- Eu nao, voce dormiu. 


A primeira decisao do trio foi numa reuniao em pe, ali mesmo, em meio a algaravia da rodoviaria do Plano Piloto, onde a fumaça de oleo diesel  misturava-se ao cheiro de pastel frito. E a decisao era sobre que rumo tomar.   Se iriam primeiro para o hotel ou direto para a sala de trabalho no Ministerio da Fazenda, onde tomariam um depoimento sobre o grande roubo dos celulares da Receita Federal. Centenas de aparelhos lacrados na caixa haviam desaparecido sem deixar rastro. 


- Falta menos de duas horas. Sou por a gente ir direto para o trabalho.
- Discordo. To exausta. 
- Como vota o colega Valdomiro...
- A favor. 
- Voce foi voto vencido, Maria Geralda - proclamou o presidente Fonteles. - A sala de audiencia nos espera.
- Nos espera uma ova! Voce nao manda em mim. 
- Eu sozinho nao. Mas eu e o Valdomiro juntos, sim. Deu dois a um!
- Essa decisao nao vale nada. Onde ja se viu reuniao na rua...
-  Ah, que vale, isso vale. Depois a gente lavra a ata.  E vamos andando a pe mesmo, que o Ministerio da Fazenda fica logo ali!
- Fica logo ali pra voce que eh bobo.Nao vou.
- Me chamar de bobo eh manifestaçao de desapreço, mulher.
- Alem de ignorante, machista. Manifestaçao de desapreço eh so na repartiçao.
- Se voce nao vier, devolva a diaria.
- Quer saber...Vou devolver todas. E denunciar voce por abuso e preconceito.
- Pois va. Tambem vou denunciar voce  por nao acatar decisoes da comissao.

E assim teve fim um grupo de trabalho, que ardeu na fogueira das vaidades, cujas chamas jamais se extinguem.  Ah, o silencioso Auditor Valdomiro virou mais uma testemunha.   

22 janeiro 2012

Covardia Em Italiano


Seria demais para os italianos, nao fosse a fala rispida de um homem que ordenava insistentemente ao comandante fujao que voltasse a bordo. Pois o comandante deve - por oficio - ser o ultimo a abandonar o navio, ainda que ao preço de de fazer do mar a ultima morada.
 
As comparaçoes com o naufragio do Titanic sao inevitaveis, embora naufragar a noite nas aguas terrivelmente geladas do Mar do Norte fosse tragedia bem maior. A certeza da morte iminente levou a orquestra do Titanic a executar as ultimas cançoes, num comportamento estoico que nos deixa perplexos. Se o navio Costa Concordia nao teve orquestra a executar derradeiras notas, nem um comandante heroi, foi talvez pela certeza de sobreviver de sua tripulaçao e passageiros. A vista da terra firme acende nos naufragos uma esperança sem fim. Esperança que joga de lado todas as regras da civilizaçao, dando lugar aos pisoteios e atropelos do salve-se quem puder.

Mas nem tudo esta perdido. Mulheres e homens sao ainda capazes, em momentos tragicos, de grandezas admiraveis. Pode o comandante fugir. Mas tera o homem da fala rispida a lembrar-lhe que as coisas ficarao feias em terra para quem nao cumpre o dever de oficio.    

09 janeiro 2012

Em Busca Do Tempo Perdido

Meus prezados colegas, 
vi-me as voltas com alguns contratempos, que explicam o sumiço das atualizaçoes do blog. Em verdade, ainda agora nao me desembaracei de todo deles. Aos que me querem bem, cumpre-me esclarecer que os contratempos nao dizem respeito a minha saude, senao a uma misteriosa maquina teima comigo noite e dia. Dizer que teima comigo o novo computador eh despiciendo para o fabricante, que afirma o oposto: em havendo teimoso nessa relação,  serei  eu,  nao a maquina! E acrescenta: um tempo medio de tres meses eh o necessario para o computador te obedecer como um filho ao pai...


Pois bem, caros colegas:  Agradeço a paciencia depois de voces, por terem acessado durante uma indesejada ausencia. Nao darei, contudo, por prejuizo, porquanto me veio a memoria um bom tanto de causos verdadeiros, que em breve    espero contar
-lhes nesta esquina virtual. Agora, como no monumental romance de  Proust, vou em busca do tempo perdido. Ate breve, Deus permitindo!