Esta eh a historia de um fiscal corrupto de Sao Paulo que, apos ser denunciado e colocado num inquerito pela corregedoria, houve por bem se fazer de doido, visando a obter a condiçao de inimputavel. Seria nao a avidez pela grana, mas psicose pura que o teria conduzido pelos desvaos da imoralidade, mais exatamente levando-o a agir no varejo da propina. Fred era o homem. Cabelos desgrenhados e olhos esbugalhados mirando em algum ponto da parede, quando acompanhava o inquerito.
Fred havia juntado ao processo disciplinar algumas declaraçoes de especialistas, dando conta de que ele seria, ao tempo dos fatos, incapaz de distinguir entre o certo e o errado, entre o bem e o mal etc. E como nada disso parecesse convencer a comissao processante, Fred decidiu apelar ao extremo. Seria, por assim dizer, a ultima cartada, encerrando o jogo, com a rendiçao do trio disciplinar ao fato de que ele era mesmo louco de pedra.
Aconteceu numa manha. Apos desconstituir mediante uma surra a advogada e esposa, o candidato a louco foi ter com o presidente da comissao que o investigava, o Auditor-Fiscal Arnold. Quando Arnold estendeu a mao para cumprimenta-lo, o corrupto deu-lhe um violento murro no rosto. E engalfinhou-se numa luta com o investigador, somente sendo apartado pelos seguranças. Nesse interim foi chamada a policia. Fred foi detido e enquadrdo pelo delegado em obstruçao no curso do processo, que vem a ser ilicito inafiançavel. Como resultado da farsa malsucedida, Fred virou chave de cadeia. Depois dançou.
Este blog é um pouco da história da corrupção e da impunidade, que devastam o país como nunca. Vai também sobre filosofia e política. Atençao:a partir de maio de 2011, os artigos nao conterao acentuaçao grafica, devido a uma necessidade especial. Por ser portador de Esclerose Lateral Amiotrofica, restou ao autor escrever com os olhos, por meio de computador especial com teclado virtual, no padrao ingles-americano.
30 janeiro 2012
25 janeiro 2012
Vaidade das Vaidades!
Era aparentemente uma comissao de inquerito como qualquer outra. Era! Ate que o trio tivesse o primeiro encontro. Encontraram-se na rodoviaria de Brasilia. Eram uma Auditora e dois Auditores, todos vindos de Goias. A Auditora foi a primeira a chegar. O presidente do colegiado chegaria trinta minutos apos e avistou a colega no lugar combinado.
- Vamos esperar o Valdomiro. Ele ja ta chegando.
- To cansada!
- Quinze minutinhos, e ele ta aqui. A gente racha o taxi.
- (!)
Foram-se os quinze minutinhos, e nada do Valdomiro. Veio mais uma hora, e nada do homem. A Auditora Maria Geralda cochilava, quando o onibus de Valdomiro estacionou. Fonteles bateu no ombro de Geralda.
- Miro chegou. Simbora.
Geralda olhou o relogio bocejando:
- Voce me fez esperar mais de hora!
- Eu nao, voce dormiu.
A primeira decisao do trio foi numa reuniao em pe, ali mesmo, em meio a algaravia da rodoviaria do Plano Piloto, onde a fumaça de oleo diesel misturava-se ao cheiro de pastel frito. E a decisao era sobre que rumo tomar. Se iriam primeiro para o hotel ou direto para a sala de trabalho no Ministerio da Fazenda, onde tomariam um depoimento sobre o grande roubo dos celulares da Receita Federal. Centenas de aparelhos lacrados na caixa haviam desaparecido sem deixar rastro.
- Falta menos de duas horas. Sou por a gente ir direto para o trabalho.
- Discordo. To exausta.
- Como vota o colega Valdomiro...
- A favor.
- Voce foi voto vencido, Maria Geralda - proclamou o presidente Fonteles. - A sala de audiencia nos espera.
- Nos espera uma ova! Voce nao manda em mim.
- Eu sozinho nao. Mas eu e o Valdomiro juntos, sim. Deu dois a um!
- Essa decisao nao vale nada. Onde ja se viu reuniao na rua...
- Ah, que vale, isso vale. Depois a gente lavra a ata. E vamos andando a pe mesmo, que o Ministerio da Fazenda fica logo ali!
- Fica logo ali pra voce que eh bobo.Nao vou.
- Me chamar de bobo eh manifestaçao de desapreço, mulher.
- Alem de ignorante, machista. Manifestaçao de desapreço eh so na repartiçao.
- Se voce nao vier, devolva a diaria.
- Quer saber...Vou devolver todas. E denunciar voce por abuso e preconceito.
- Pois va. Tambem vou denunciar voce por nao acatar decisoes da comissao.
E assim teve fim um grupo de trabalho, que ardeu na fogueira das vaidades, cujas chamas jamais se extinguem. Ah, o silencioso Auditor Valdomiro virou mais uma testemunha.
22 janeiro 2012
Covardia Em Italiano
Seria demais para os italianos, nao fosse a fala rispida de um homem que ordenava insistentemente ao comandante fujao que voltasse a bordo. Pois o comandante deve - por oficio - ser o ultimo a abandonar o navio, ainda que ao preço de de fazer do mar a ultima morada.
As comparaçoes com o naufragio do Titanic sao inevitaveis, embora naufragar a noite nas aguas terrivelmente geladas do Mar do Norte fosse tragedia bem maior. A certeza da morte iminente levou a orquestra do Titanic a executar as ultimas cançoes, num comportamento estoico que nos deixa perplexos. Se o navio Costa Concordia nao teve orquestra a executar derradeiras notas, nem um comandante heroi, foi talvez pela certeza de sobreviver de sua tripulaçao e passageiros. A vista da terra firme acende nos naufragos uma esperança sem fim. Esperança que joga de lado todas as regras da civilizaçao, dando lugar aos pisoteios e atropelos do salve-se quem puder.
Mas nem tudo esta perdido. Mulheres e homens sao ainda capazes, em momentos tragicos, de grandezas admiraveis. Pode o comandante fugir. Mas tera o homem da fala rispida a lembrar-lhe que as coisas ficarao feias em terra para quem nao cumpre o dever de oficio.
09 janeiro 2012
Em Busca Do Tempo Perdido
Meus prezados colegas,
vi-me as voltas com alguns contratempos, que explicam o sumiço das atualizaçoes do blog. Em verdade, ainda agora nao me desembaracei de todo deles. Aos que me querem bem, cumpre-me esclarecer que os contratempos nao dizem respeito a minha saude, senao a uma misteriosa maquina teima comigo noite e dia. Dizer que teima comigo o novo computador eh despiciendo para o fabricante, que afirma o oposto: em havendo teimoso nessa relação, serei eu, nao a maquina! E acrescenta: um tempo medio de tres meses eh o necessario para o computador te obedecer como um filho ao pai...
Pois bem, caros colegas: Agradeço a paciencia depois de voces, por terem acessado durante uma indesejada ausencia. Nao darei, contudo, por prejuizo, porquanto me veio a memoria um bom tanto de causos verdadeiros, que em breve espero contar
-lhes nesta esquina virtual. Agora, como no monumental romance de Proust, vou em busca do tempo perdido. Ate breve, Deus permitindo!
vi-me as voltas com alguns contratempos, que explicam o sumiço das atualizaçoes do blog. Em verdade, ainda agora nao me desembaracei de todo deles. Aos que me querem bem, cumpre-me esclarecer que os contratempos nao dizem respeito a minha saude, senao a uma misteriosa maquina teima comigo noite e dia. Dizer que teima comigo o novo computador eh despiciendo para o fabricante, que afirma o oposto: em havendo teimoso nessa relação, serei eu, nao a maquina! E acrescenta: um tempo medio de tres meses eh o necessario para o computador te obedecer como um filho ao pai...
Pois bem, caros colegas: Agradeço a paciencia depois de voces, por terem acessado durante uma indesejada ausencia. Nao darei, contudo, por prejuizo, porquanto me veio a memoria um bom tanto de causos verdadeiros, que em breve espero contar
-lhes nesta esquina virtual. Agora, como no monumental romance de Proust, vou em busca do tempo perdido. Ate breve, Deus permitindo!
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