Sao cinco horas da tarde de uma sexta-feira. O exportador Ademar de los Rios aguarda nervosamente sua vez de ser atendido no maior porto do Brasil. Ele sabe que corre o risco de perder o cliente, se a amostra de madeira nobre nao atracar no prazo combinado em Barcelona.
Finalmente, chega vez dele. Ademar explica ao funcionario que precisa embarcar a carga ainda na sexta, para que chegue a tempo na Espanha. Sem se dar conta, ele se colocou na mira do achaque, quando confessou a urgencia. Disse-lhe o funcionario:
- Hoje nao vai ter jeito. Faltam vinte pras seis. Vai ter que ficar pra segunda.
- Homem de Deus. Eu vim de Brasilia apenas pra isso. To aqui desde as duas. Se eu quebro o contrato com os espanhois, to no sal!
Fazer o que! Nao da mais tempo ir vistoriar o conteiner la longe, voltar aqui e despachar.
- Pelo amor de Deus!
O funcionario Ariosvaldo Melhoraes estava no controle da situaçao e disse baixinho:
- A menos que...
- Graças a Deus, eu sabia que o senhor ia dar um jeito - exultou o exportador, aliviado.
- Fica tudo por cinco mil, eh a taxa de urgencia.
- Cinco mil! nao daria pra dar um desconto...tenho somente 900.
- Nao tem desconto, eh tabelado. Isto aqui nao eh quitanda pra fazer pechincha, e tem um caixa eletronico bem ali.
- Nao, nao. Nao to oferecendo uma mixaria de 900. Nao daria pra fechar por 3 mil...
- Mas eh chorao, hein! Fechado.
Sucedeu, porem, que o caixa eletronico estava estava quebrado.
- Pode ser em cheque...nao tem outro jeito.
- Preenche ai.
Ademar deu a propina em cheque, e o corrupto depositou na conta da mae, uma senhora idosa de 82 anos.
Na segunda-feira segunte, ja de volta a Brasilia, Ademar era o primeiro da fila numa das agencias do banco do Brasil na Asa Norte. Sustou o pagamento do cheque e justificou: esse cheque nao vale nada porque eh pagamento de corrupçao.
Em seguida, foi a Corregedoria contar a historia e entregar o documento.
Sem a grana e com um inquerito nas costas, Ariosvaldo ficou a ver navios. Depois dançou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário