22 julho 2011

A Última Noite de Um Homem

A arma - um calibre 32 - que o presidente Vargas usou para acertar o coraçao em desespero, naquele fatidico agosto de 1954, saindo da vida para entrar na Historia. Despediu-se cordialmente dos assessores, na alta madrugada, e foi para o leito pela ultima vez.

Na epoca, dizia-se, o Brasil afundava num mar de lama.


Sartre escreveu que o inferno sao os outros. Nietzsche afirmava que a unica questao filosofica eh escolher entre o suicidio e a vida.


Os outros haviam se tornado um inferno na vida do presidente Vargas. A imprensa o acusava gravemente de ser o mandante de um crime. 


Acuado e sozinho. Era como Getulio se sentia, e nao apenas naquele momento tragico. No auge de seu prestigio como lider de massas, ele escreveu em suas memorias algo assim: So me encontro comigo mesmo quando estou so. Necessito muito desta solidao. 
 
E ali estava ele, mais uma vez sozinho, agora  tendo que decidir entre a morte e a vida. Quais teriam sido suas reflexoes derradeiras, quando o cano frio da arma roçou o peito aberto...


Nietzsche escreveu: O homem que decide suprimir a propria vida somente por isso ja mereceria viver.

Creio que o presidente Vargas nao deve ter pensado nem em Sartre nem em Nietzsche, embora conhecesse a ambos. E nao teria pensado tampouco na Historia ou na politica.  


Se me fosse dado apostar, com alguma incerteza embora, colocaria todas as fichas em que ele refletiu, naqueles instantes finais, sobre o quanto desagrada a Deus tirar a propria vida, salvo na condiçao de desespero sem fim.          

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