31 julho 2011

O Dia Do Panico No Rio


- Olhe aqui. To preso e sou inocente. Voce alivie a minha barra, se nao vou te processar.

- Voce tem o direito de dizer que eh inocente. Mas nao de me ameaçar. 

- Eu ja tava no dia de me aposentar. Ai voce faz esse carnaval na imprensa, me acusando sem prova.  

- Meu caro G. Quem pediu a tua prisao  foi a PF. E quem mandou te prender foi o juiz. Fale com eles. Ta ameaçando a pessoa errada.

O delegado do Fisco no Rio estava preso. Era uma audiencia publica, conduzida pelo juiz Alfredo Portugal, que havia convocado o corregedor M. Leon para ajudar no interrogatorio. Estavam presentes quase uma dezena de acusados, seus advogados e um sequito de jornalistas. No intervalo da audiencia, o delegado G. chamou o corregedor para um particular. E aconteceu o dialogo que inicia este texto.

A  Corregedoria nao havia pedido a prisao de ninguem, pois nao tinha  poderes para isso. Tampouco conhecia a lista de pessoas que viriam a ser presas, com base apenas nas escutas telefonicas feitas pela PF. Somente na vespera da operaçao policial, o corregedor ficaria sabendo onde seriam cumpridos os mandados de busca e apreensao e quais seriam os presos. Aconteceu numa reuniao conjunta no gabinete do meritissimo, entre a PF, a Corregedoria, o MP, com a participaçao do superintendente do Fisco. 

Quando viu a lista dos que seriam presos, o superintendente Paul A. olhou para o corregedor e disse:

- So tem uma pessoa aqui que eu nao acredito que esteja envolvida: eh o Fernando Old.

Começava assim o pedido do corregedor ao juiz, que seria apresentado posteriormente, com base em documentos, e que levaria a libertaçao do funcionario.

Num dos proximos posts, vou contar o que realmente aconteceu com o Fisco da cidade maravilhosa, no dia do grande panico. Aguardem.


30 julho 2011

Mais de 15 Mil Acessos!



Meus prezados leitores, muito obrigado.  O  blog ja ultrapassou 15 mil acessos, em exatos dois meses. Uma demonstraçao inequivoca de que a corrupçao esta na ordem-do-dia, tanto para aqueles que a praticam, como para os que a execram e a enfrentam. Devo ainda ter uma meia-duzia de leitores, quando me aventuro a discorrer sobre filosofia. 

 Conhecer por dentro os mecanismos desta praga nacional ja eh um passo para combate-la com eficacia. Quem desconhece nem imagina do que sao capazes os artifices na arte de roubar.

De minha parte, seguirei compartilhando com voces a experiencia que pude adquirir nos quase dez anos em que trabalhei na Corregedoria. E, sem nada conceder a falsa modestia, confesso que esses dez anos nao me tornaram um especialista no tema.

 A corrupçao eh sempre mutante. Esta esfinge exige muito labor, imaginaçao e alguma dose de coragem para decrifa-la. E esta sempre pronta para devorar os que lhe miram face-a-face.  Especialmente as esfinges que encimam a piramide da roubalheira. Eh interpelaçao, representaçao e processos de todas as especies contra as autoridades que investigam, incluindo ainda ameaças.

 O corrupto milionario teria sido uma vitima, e quem o investiga eh acusado de praticar abuso de poder e outras ilegalidades, em petiçoes subscritas por advogados de escol e caros, carissimos. 

O filosofo alemao Kant estabeleceu o imperativo categorico, que resumiu na sentença:

Acima de mim, o ceu estrelado. Dentro de mim a lei moral

Referia-se a força interior que nos impele a agir, mesmo quando a luta eh desigual, e a batalha parece perdida. Posto que, para manter viva a esperança, sempre ha de haver mulheres e homens que temem menos a derrota do que enfrentar a lei moral que trazem dentro de si.   


28 julho 2011

O Observatorio do Alem Faz Contato

O Observatorio do Alem fez contato comigo.   Tera sido provavelmente um finado que nao encontrou ainda a  paz, em virtude do  odio que me devota, a julgar pelo texto. E dado que a alma inquieta preferiu esconder-se por detras do anonimato, nao tenho a mais minima chance de saber quem foi ela em vida. 


 Suspeito que o espirito viandante tenha sido atingido por alguma açao da Corregedoria sob meu comando, mas mesmo isso ja nao mais  importa, nem para mim, nem para ele. 

A mensagem vinda do alem-tumulo eh a ultima do post As Ruas Que Falam Em Rio Pardo, que transcrevo:


Olá, gostaria de saber do estado de tetraplegia do Moacir Leão.  Alguém tem notícia do estado de imobilidade total com alimentação por sonda e respiração via aparelhos ?
E o fato de manter a mente em perfeitas condições, para tornar a doença mais cruel ainda ? 
É a constatação do velho ditado: aqui se faz, aqui se paga.
Observatorio do Alem!
 
 
O velho Freud, que morreu descrendo em Deus e nos homens, ainda assim fazia a sua prece aos ceus para que nao lhe sobreviesse a pior das doenças: aquela que tira o juizo.  Sim, ele temia a loucura - e, com toda a razao,  considerava-a o pior dos males que pode afligir uma mulher ou um homem. E falava como profundo observador da natureza humana que era.

Nos tempos idos, os loucos eram enfiados num navio de madeira, que se fazia ao mar, a deriva, e ao qual os que ficavam em terra firme chamavam de a nau dos insensatos

Portanto, alma inquieta, onde estiver, faça aplacar esse odio, e conclua, concordando com o pai da psicanalise: salvo a loucura, o resto a gente suporta, quando nao mesmo supera.

Honni soit qui mal y penseOdios aplacados, descanse em paz. E fique com Deus.

27 julho 2011

Chefe, Corre Que A Policia Vem Ai

Era uma vez um mendigo que morava debaixo de uma sacada. Samuel era um piedoso judeu que, todos os dias, religiosamente, dava-lhe uma generosa esmola.

Sucedeu, porem, que Samuel teve de dar uma noticia nao muito boa ao desafortunado:

- Meu amigo, vou ter que cortar pela metade a esmola, pra ajudar meu filho, que vai casar - disse meio constrangido.

Surpreendente foi a resposta do mendigo, sem pestanejar.

- Ah, vai casar...pois ele que gaste o dinheiro dele, e nao o meu!


A arrogancia, quando desenfreada, nao encontra limite nem na sarjeta. Certa vez, o dr. Lastforever, que era um poço de vaidade, disse ao distinto publico, num coquetel a homenagea-lo:

- Ha metodo em tudo. Na mendicancia e no modo como se recolhe o lixo.

E concluiu:

- Eu, se fosse lixeiro, seria o melhor lixeiro.

E o distinto publico aplaudiu lindamente o chefe. O dr. Lastforever estava seguro de que seria aplaudido no final, nao importando a bobagem que dissesse. Mesmo assim, caprichou no discurso.  No entanto, esqueceu-se de uma profissao, que  exige mais metodo ainda, chegando quase a ser uma arte, e perto da qual a mendicancia eh uma nobreza. Os que exercem a profissao esquecida, o poeta Dante colocou-os num dos mais profundos circulos do inferno.

 Seria ele tambem o melhor, na profissao que leva direto a danaçao eterna... Dificil apostar, pois ali mesmo, no coquetel, havia concorrentes peso-pesados.

Quando alguem lhe apresentava uma ideia melhor, corrigindo-lhe um erro, o dr. Lastforever replicava com um sorriso de meia boca, pois jamais incidia em erro: 

- Voce nao esta de todo errado, mas...

Um dia veio em que o caldo entornou. Apareceu um procurador amalucado, ja nao se recorda do que nem de onde, para tomar a termo um depoimento do dr. Lastforever, conforme previamente combinado. 

Contudo, o dr. Lastforever havia mudado de ideia. Koyanicovz o convencera de que seria uma cilada - e nao estava de todo errado.

 Quando ouviu da secretaria que o depoimento nao poderia ser dado, em vista de um compromisso inadiavel do chefe, o procurador virou bicho:

- A senhora me diga a-go-ra onde fica o gabinete dele. 

Juntando os pulsos, fez sinal para a dupla de policias a paisana que o acompanhava.

- Vamos prender, podem algemar. 

Acompanhava ainda o procurador uma numerosa trupe: queixosos, ofendidos, advogados e - o pior de tudo! - a imprensa. Holofotes, cameras e toda a parafernalia.  Os fotografos ouriçaram-se e tomaram posiçao, quando viram a policia sacar as  algemas. 

Assistindo a tudo pelo monitor, o dr. Lastforever viu quando o procurador tomou o rumo do gabinete, seguido pela policia. As images no monitor iam crescendo mais e mais: 

- Chefe, corre, corre, que vao te prender - alertou um adjunto. 

O dr. Lastforever deu de mao no casaco e, rapido como quem rouba, correu ate o elevador privativo, indo esconder-se alguns andares abaixo. 

Se fosse um velocista, posto que em  correr ha metodo, ele seria tambem o melhor. 
   

Todos os nomes constantes neste texto sao ficticios. Qualquer semelhança com nomes de pessoas reais tera sido mera coincidencia.


25 julho 2011

Como Nao Entrar Numa Fria Trabalhando Entre Os Medonhos

Se  quiseres debater comigo, define os teus termos - dizia Voltaire. Atendendo a chamada do maior polemista frances, ja vou logo definindo que medonho nao eh necessariamente um corrupto. Seria um conjunto maior, a conter o conjunto dos corruptos e ainda outros, de menor periculosidade, mas diante de quem nao se deve abaixar a guarda. Sao alguns chefes malandros, que dao ordens verbais e na hora do aperto sao acometidos de subita amnesia. Em geral, o malsucedido ocorre numa situaçao que pressiona o servidor, levando-o a esquecer a trilha mais apertada em que anda, limitada pelo Direito Publico, onde so eh tolerado fazer o que a lei autoriza. 

Um exemplo do que venho de dizer. Imaginem a seguinte manchete nas revistas semanais, nos jornais e nas teves:  Funcionarios da Alfandega do porto de V.  recebiam propina de importadores.

 As manchetes eram por conta de dezenas de analistas que recebiam nas suas contas bancarias depositos regulares dos importadores.  

O dr. Lastforever dizia a Koyanicovz: Quero ver todo mundo na rua. Mas havia um problema. Todos os Analistas eram inocentes, como ficaria comprovado no inquerito presidido por M. Leon, acompanhado do Analista Joseph Caixet e do Auditor-Fiscal Paulus Valerio.   

Os Analistas haviam recebido ordem do inspetor Ednardo para proceder como fizeram. Nesse caso, so eh punivel o autor da ordem.  E o inspetor, a seu turno, tinha a aprovaçao do Superintendente e do Secretario para dar a ordem que deu.
 
Tudo começou com uma situaçao que pressionava a alfandega, com a chegada de milhares de veiculos ao porto de V. Tiveram que multiplicar por 50 o ritmo de trabalho, mantido constante o numero de funcionarios. Para dar conta da enxurrada da veiculos, viram-se obrigados a avançar em trabalhos noturnos e nos finais de semana. Tambem alfandegaram varios locais na cidade, ate terrenos baldios, para armazenar a frota imensa que nao parava de chegar. Era coisa de louco! 

Os importadores faziam uma pressao tremenda, pois a alfandega havia se transformado num estorvo para os negocios, por nao dar conta do volume centuplicado:

- Bom dia Superintendente. Olha, estou a ponto de largar isso aqui. A Alfandega vai ter que trabalhar 24 horas e nos fins de semana - disse o inspetor.

- Certo, certo.

- Certo nada. Nao tem previsao legal de pagar horas extras. Como eh que faço o pessoal trabalhar 24 horas, de domingo a domingo...


- Dificil realmente. Ta complicado.

- Os importadores tao querendo a pagar horas extras e adicional noturno pra todas as equipes.

- Huummm.

- No tempo em que se amarrava cachorro com linguiça, tinha uma lei que autorizava o fiscal a receber diarias do importador.   

- Sei, sei, eh do meu tempo.

- O que voce acha, chefe...

- Acho que eh por ai. De graça ninguem trabalha.

O inspetor mandou brasa. Chamou os importadores, e combinou o valor da hora extra. Definiu as equipes, que faziam rodizio. Recebeu em visita  o Superintendente e o Secretario, que foram juntos ver o milagre in loco

Quando se viu diante do inquerito, sozinho, acusado de dar ordem ilegal, o inspetor defendeu-se:

- Assim como eu sou chefe dos Analistas e dos Fiscais, o  Superintendente e o Secretario sao meus chefes, e os dois me autorizaram.

A comissao de inquerito intimou o Superintendente e o Secretario a prestar depoimento. Nehum deles apareceu. Como ja haviam deixado os cargos, e por estarem aposentados, nao estavam mais obrigados a atender a intimaçao.

Seria caso de demissao, se o inspetor nao tivesse agido de boa fe. Nos autos do processo ele apareceu como quem criou e implementou tudo sozinho:

- Podem escrever ai: os dois sao covardes e fdp! - disse indignado.

O inspetor levou uma suspensao de 90 dias.

E assim terminou uma conturbada historia, que a todos nos deixou uma liçao: em alguns casos, o memorando eh bem melhor do que o telefone.  Ou, ainda antes, como ensinava o brilhante Corregedor Koyanicovz:

- Se nao da pra fazer, nao faz.


Todos os nomes constantes neste texto sao ficticios. Qualquer semelhança com nomes de pessoas reais tera sido mera coincidencia.
 

23 julho 2011

A Imprestavel Norma do Acesso Imotivado

Faz tempo, estive falando sobre o acesso imotivado num encontro nacional em Salvador, a convite do entao Unafisco Sindical. E dado que eu defendia a restriçao ao acesso, ja assomei ao pulpito sabendo que convencer os colegas da justeza dessa medida  seria o mesmo que nadar cachoeira acima.

Alguns corruptos faziam falsas fiscalizaçoes, sem que a Receita tivesse tivesse conhecimento delas, por obvio, e valiam-se do acesso imotivado para selecionar as empresas que iriam achacar. Viajavam do interior de Sao Paulo para a capital e davam inicio as fiscalizaçoes particulares, e as empresas achando que era coisa da Receita mesmo. Cercar a corrupçao era o unico argumento em favor da proibiçao ao acesso sem motivo. No mais, nada havia que defendesse a vedaçao. Era uma norma exclusivamente no interesse da Corregedoria.

A restriçao ao acesso tinha, porem, alguns problemas, e o principal deles era restringir o poder da fiscalizaçao, alem de trazer insegurança a larga maioria de funcionarios honestos que utilizavam os sistemas informatizados.

Os fatos foram aos poucos mostrando a inutilidade dessa medida restritiva. Nao ocorreu nenhuma demissao por falta grave associada ao acesso imotivado, tais como quebra de sigilo fiscal ou vazamento de dados sigilosos. E para as puniçoes de grau inferior, como advertencia e suspençao, nao compensa suportar a enorme contrapartida negativa da restriçao.

Contudo, foi preciso que sobreviesse um cataclismo de imoralidade dentro da propria Corregedoria, por nao sei que ironia do destino, para que ficasse exposta a inutilidade da norma restritiva. Pois, sob a justificativa de acesso imotivado, deflagrou-se a mais terrivel perseguiçao na historia da Receita Federal, encomendada pelo entao Secretario Jorge Rachid contra os investigadores Washington, Cid e Marco, a quem eu havia designado para cinco inqueritos, envolvendo corrupçao na cupula. Rachid tem de devolver aos cofres publicos os quase 4 milhoes que torrou numa apuraçao especial, para fim exclusivamente persecutorio contra funcionarios decentes.  A esse respeito, vejam o texto Terror E Perseguiçao na Receita Federal

O fato traumatizante fez-me concluir que a norma restritiva  era inutil para o bem. Se nao serviu para demitir corruptos, contudo, prestou-se muito bem para atiçar a perseguiçao contra funcionarios honestos, confirmando os piores temores dos que lhe fizeram oposiçao desde o primeiro dia. Aqui se aplica o conhecido principio juridico: mil vezes preferivel absolver um culpado a condenar um inocente. Seguindo a ordem natural das coisas, devem ser presumidos como motivados todos os acessos do servidor.

Espero que o Secretario Barreto, num ato de coragem e de justiça, revogue todo esse lixo normativo.     




22 julho 2011

A Última Noite de Um Homem

A arma - um calibre 32 - que o presidente Vargas usou para acertar o coraçao em desespero, naquele fatidico agosto de 1954, saindo da vida para entrar na Historia. Despediu-se cordialmente dos assessores, na alta madrugada, e foi para o leito pela ultima vez.

Na epoca, dizia-se, o Brasil afundava num mar de lama.


Sartre escreveu que o inferno sao os outros. Nietzsche afirmava que a unica questao filosofica eh escolher entre o suicidio e a vida.


Os outros haviam se tornado um inferno na vida do presidente Vargas. A imprensa o acusava gravemente de ser o mandante de um crime. 


Acuado e sozinho. Era como Getulio se sentia, e nao apenas naquele momento tragico. No auge de seu prestigio como lider de massas, ele escreveu em suas memorias algo assim: So me encontro comigo mesmo quando estou so. Necessito muito desta solidao. 
 
E ali estava ele, mais uma vez sozinho, agora  tendo que decidir entre a morte e a vida. Quais teriam sido suas reflexoes derradeiras, quando o cano frio da arma roçou o peito aberto...


Nietzsche escreveu: O homem que decide suprimir a propria vida somente por isso ja mereceria viver.

Creio que o presidente Vargas nao deve ter pensado nem em Sartre nem em Nietzsche, embora conhecesse a ambos. E nao teria pensado tampouco na Historia ou na politica.  


Se me fosse dado apostar, com alguma incerteza embora, colocaria todas as fichas em que ele refletiu, naqueles instantes finais, sobre o quanto desagrada a Deus tirar a propria vida, salvo na condiçao de desespero sem fim.          

21 julho 2011

O Corrupto Que Ficou a Ver Navios




Sao cinco horas da tarde de uma sexta-feira. O exportador Ademar de los Rios aguarda nervosamente sua vez de ser atendido no maior porto do Brasil. Ele sabe que corre o risco de perder o cliente, se a amostra de madeira nobre nao atracar no prazo combinado em Barcelona.


Finalmente, chega vez dele. Ademar explica ao funcionario que precisa embarcar a carga ainda na sexta, para que chegue a tempo na Espanha. Sem se dar conta, ele se colocou na mira do achaque, quando confessou a urgencia.  Disse-lhe o funcionario:

- Hoje nao vai ter jeito. Faltam vinte pras seis.  Vai ter que ficar pra segunda.

- Homem de Deus. Eu vim de Brasilia apenas pra isso. To aqui desde as duas. Se eu quebro o contrato com os espanhois, to no sal!

Fazer o que! Nao da mais tempo ir vistoriar o conteiner la longe, voltar aqui e despachar. 

- Pelo amor de Deus!

O funcionario Ariosvaldo Melhoraes estava no controle da situaçao e disse baixinho:

- A menos que... 

- Graças a Deus, eu sabia que o senhor ia dar um jeito - exultou o exportador, aliviado.

 - Fica tudo por cinco mil, eh a taxa de urgencia.

- Cinco mil! nao daria pra dar um desconto...tenho somente 900.

- Nao tem desconto,  eh tabelado. Isto aqui nao eh quitanda pra fazer pechincha, e tem um caixa eletronico bem ali. 

 - Nao, nao. Nao to oferecendo uma mixaria de 900. Nao daria pra fechar por 3 mil...

- Mas eh chorao, hein! Fechado.

 Sucedeu, porem, que o caixa eletronico estava estava quebrado.

- Pode ser em cheque...nao tem outro jeito.

- Preenche ai.

Ademar deu a propina em cheque, e o corrupto depositou na conta da mae, uma senhora idosa de 82 anos. 

Na segunda-feira segunte, ja de volta a Brasilia, Ademar era o primeiro da fila numa das agencias do banco do Brasil na Asa Norte. Sustou o pagamento do cheque e justificou: esse cheque nao vale nada porque eh pagamento de corrupçao

Em seguida, foi a Corregedoria contar a historia e entregar o documento. 

Sem a grana e com um inquerito nas costas, Ariosvaldo ficou a ver navios. Depois dançou.
 

20 julho 2011

Corruptos indignados ameaçam com processo


Um breve recado noturno aos que andam metendo a mão no dinheiro do povo. A vocês, vendedores de legislaçao, fiscais- consultores, correntistas da Suiça, corruptos de todos os matizes e quilates, que entupiram os bolsos com o dinheiro público: nao adianta ameaçar com processo. Ja respondi a uma penca deles quando Corregedor, feitos para intimidar e frear a açao da Corregedoria. Todos os ladravazes da Republica tiveram seus processos contra mim  julgados improcedentes, inclusive nas instancias superiores.  

Portanto, o blog vai prosseguir contando o que voces fizeram, pois o crime nao tem direito ao sigilo.  

19 julho 2011

Cinco Milhoes Por Um Sanduiche! A Corrupçao No Comando



O dr. Lastforever esta prestes a vender mais uma legislaçao. Estamos no inicio de 2002. Seus assessores diretos, que viriam a ser demitidos pela açao da Corregedoria, ja acertaram o preço da fraude com a Mc Sanduiche: 5 milhoes.

A Mc Sanduiche pagou essa fortuna de propina para obter uma legislaçao que lhe permitisse desembolsar bem menos imposto. Dito de modo mais claro: queria ampliar de 1 para 5 por cento a deduçao na base de calculo do imposto da pessoa juridica. O que seria deduzido eram os royalties que os franqueados pagavam a matriz.  O Fisco somente aceitava 1 por cento, no maximo, e ja havia multado em 70 milhoes a Mc Sanduiche por deduzir indevidamente 5 por cento.

Mas havia um problema: a Mc Sanduiche precisava fazer o pagamento em cheque. Nao tinha como ser em dinheiro vivo. A dupla de assessores achou isso um perigo, mesmo tendo uma lavanderia de grana suja - a Martes e Cordeiro and Company. Seria arriscado demais para eles e seu chefe.

 Era preciso um laranja no meio. Acabaram por achar um, que aceitou receber o cheque de 5 milhoes. Com o estranho nome de uma velha banda de rock, a laranja RPM tinha um faturamento misero de 50 mil por ano. Levaria cem anos para faturar o valor que a Mc Sanduiche depositaria numa so ponchada.

A fraude teve começo e fim com o dr. Lastforever. Ele recebeu em maos uma petiçao da Associaçao Anglo-Saxonica de Franqueados (para disfarçar de impessoal o pedido, a Mc Sanduiche nao podia ser consulente). Mas era uma petiçao imprestavel para ser aceita pelo protocolo de qualquer repartiçao, pois:

1) era uma simples copia, desacompanhada dos documentos de identidade da subscritora, Lucy Codemorse. Sequer havia  documento indicando ser a moça legitima representante da consulente.
2) a longa exposiçao de motivos que acompanhava a petiçao-xerox era apocrifa.  Na exposiçao estavam os argumentos no interesse da Mc Sanduiche, em favor do elastecimento de 1 para 5 por cento da deduçao do imposto.
3) o lugar onde o documento deveria ser protocolizado era na delegacia de Brasileia, e nao nas maos do chefe.


Para dar andamento na fraude, o dr. Lastforever teve que pisotear o artigo sexto da lei que regula o Processo Administrativo, que exige documentaçao original e a identificaçao do contribuinte ou de seu representante legal.

Assim, ele deu prosseguimento ao pedido recebido em maos, sem, contudo, dar um despacho na petiçao, que andou sozinha como se tivesse um mecanismo fantasma a impulsiona-la, ate cair na Cozzit, o orgao do Fisco que, no exiguo tempo de dois dias, acataria todos os argumentos do parecer apocrifo, dando razao a consulente.


Tao-logo recebeu o parecer da Cozzit, o dr. Lastforever editou o Ato de Declaraçao numero x, que modificava para 5 por cento o limite de deduçao na base de calculo do imposto da pessoa juridica. Doravante, a Mc Sanduiche iria pagar bem menos imposto. Estava, portanto, consumada a fraude.  

Tao-logo viu publicado o Ato de Declaraçao numero x no diario oficial, a Mc Sanduiche depositou os 5 milhoes na conta do laranja. 

Tao-logo recebeu os 5 milhoes, o laranja depositou 2 milhoes na conta da Martes e Cordeiro. Os restantes 3 milhoes foram sacados em dinheiro vivo, e nao se sabe do seu paradeiro. Provavelmente foram recebidos em maos. 

Perdeu o Fisco de imediato 70 milhoes, que havia lançado. E seguiu perdendo com a reduçao do imposto, extensivel nao somente a Mc Sanduiche, mas a qualquer franqueado, porque o Ato de Declaraçao nao podia deixar de ser generico

War, o presidente da comissao investigadora, entrou no gabinete do Corregedor M. Leon e foi logo dizendo:

- Esses bandidos tocam fogo no mato inteiro pra pegar um so coelho. Pegamos eles.

Hoje, corre uma açao civil publica ajuizada pelo Ministerio Publico, visando a punir nao apenas os corruptos, mas tambem os corruptores, num caso bem parecido. Dir-se-ia praticamente igual.       


Os nomes das pessoas fisicas e juridicas constantes neste texto sao ficticios. Portanto, eventual igualdade com os nomes de pessoas reais tera sido mera coincidencia.

18 julho 2011

O Sanduiche de Cinco Milhoes

Uma empresa que faz esse sanduiche pagou 5 milhoes para se livrar de pagar 70. De uma so penada, ainda seguiu doravante pagando menos imposto, graças a um ato de declaraçao elaborado pela alta cupula. A dupla de consultores demitidos levou 2 milhoes. A parte  do leao ficou com um socio oculto deles, que embolsou 3 milhoes cash. A Corregedoria os pegou. Veja no proximo post.

16 julho 2011

Tu nao mataras! A Obra de Um Genio






Girard: Somente o Cristianismo eh realidade. Somente o texto biblico possibilita o entendimento da violencia, que eh o proprio Mal.


O frances Rene Girard eh um genio. Vivendo ha mais de 50 anos nos Estados Unidos, ele erigiu uma obra cientifica monumental. Antropologo e mestre na interpretaçao de textos dos grandes autores classicos, como Shakespeare e Cervantes, ele, num momento de sua carreira academica, lançou seus olhos sobre os textos biblicos. E nunca mais parou de escrever sobre o que descobriu.


As conclusoes a que chegou, como ele proprio adverte, possuem implicaçoes religiosas, mas nao provem de um ato de fe, e sim da antropologia centrada no estudo da violencia, desde as sociedades arcaicas ate nossos dias.

As conclusoes impressionam pela originalidade e força teorica.


Algumas delas:


1-A violencia nasce da imitaçao. Os homens desejam os que os outros tem. Mas nao porque simplesmente tem, mas porque os que tem tambem desejam o objeto possuido. Nao esta no valor intrinseco das coisas. Esta no desejo. Quanto mais o possuidor desejar o que ja possui, tanto mais o nao-possuidor ira deseja-lo tambem. A isso Rene Girard da o nome de mimetismo.


2-Esse mimetismo eh a causa da violencia humana.


3- Somente o texto biblico, judaico-cristao, em especial o Novo Testamento - e mais nenhum outro texto religioso - contem a chave para o entendimento da violencia. E a violencia se confunde com o proprio Mal.


Ou seja, dito de modo bem claro, o profundo pensador nao faz nenhuma concessao ao relativismo religioso. Tudo se encerra com o Cristianismo, que ja decifrou e venceu o Mal. Nao ha espaço para outras doutrinas religiosas, pois o Cristianismo esgotou todas as possibilidades de compreensao da violencia. Nao ha outro caminho: ou eh o Cristianismo ou o Armagedon. Basta segui-lo para aceder a Verdade.


Num pequeno e-book em portugues, chamado O Bode Expiatorio e Deus, o proprio Girard resume sua obra. O link vai publicado ao final deste texto. Infelizmente, uns poucos livros estao traduzidos para o portugues, entre os quais o essencial Eu Via Satanas Cair Como Um Raio.

Nao deixe de ler. Voce vera a violencia com outros olhos - como nunca se viu.



Rene Girard. O Bode Expiatorio e Deus



















15 julho 2011

A Tragedia no Recife


Morte tragica. Carla era Auditora-Fiscal e delegada da Receita Federal em Mossoro. Retornava de uma viagem de trabalho a Recife.

 Incerta e provisoria eh a condiçao humana. Nao sabemos jamais quando a tragedia nos espreita na violencia das ruas, do transito, nas balas perdidas ou num aviao que cai.

A Auditora-Fiscal Carla Sueli Barbosa Moreira, que teve anteontem morte tragica na queda do aviao da empresa Noar, no Recife, tinha apenas 37 anos e deixa cinco filhos.  A julgar pela pouca idade da colega, devem ser adolescentes ou crianças - o que torna ainda maior o sofrimento da familia. 

Minha solidariedade aos familiares, neste momento de desespero e dor.

Possa Deus dar animo e conforto a familia, em especial as crianças, que perderam a querida mae. In hoc signo vinces.   

14 julho 2011

O Gay Estressado



Camilla Morgano era Analista da Receita numa das repartiçoes encravadas em plena floresta amazonica. Numa sexta a tarde, depois de uma chuvarada daquelas, a jovem Camilla ja ia dando de mao na bolsa, para mais um fim de semana bom, a beira dos igarapes com os amigos.

O relogio da parede dava cinco para as seis, quando entrou o advogado Fortunato do Amaral Jr.:

- Moça, sei que ja eh final de expediente, mas eh coisinha rapida.

- Pois nao, me diga.

O advogado pos no balcao uma pilha de papel que espantou Camilla:

- O senhor me disse que era coisinha rapida.

- E eh! Minha duvida eh uma so: como fazer a declaraçao de renda. Mas a coisa se desdobra em mil e uma explicaçoes pra la e pra ca.

- To perdido - disse Fortunato.

- Tudo bem. O senhor volta na segunda, e a gente ve isso. Agora nao da. Ja passa das seis, tenho que ir.

Nesta altura, o advogado perdeu a paciencia:

- Olha aqui, minha querida! Voce ta sendo grossa comigo. Ta me botando pra fora. 

- Eu nao. O relogio!

- Voce, queridinha, ta descumprindo um dever funcional, que manda tratar com urbanidade as pessoas, ta!

- Pra tudo nesse mundo tem hora, senhor.

- Senhor, nao. Doutor! Sou advogado, me respeite! 

Sentindo-se avexada  diante dos colegas, que esticaram o expediente para ver o final da contenda, Camilla disparou uma provocaçaozinha, imitando o jeito de falar do advogado ate nos trejeitos:

- Olha aqui, meu querido, doutor o senhor eh la no forum. Aqui eh con-tri-bu-in-te, viu, e chamar o senhor de senhor ja eh homenagem suficiente.

Fortunato subiu nas tamancas. Num acesso de ira, jogou no  chao toda a pilha de papel. Mas de imediato pos-se a juntar tudo.

- Eu nuuncaaa maiiisss boto os pes nesta espelunca! Nuuncaaa maiiisss!

Enquanto se retirava com a cabeça tinindo, ouviu pelas costas um comentario:

- Gay estressado!

Furioso, deu meia volta e foi aos brados dizendo:

- O chefe da espelunca. Chamem agora que eu vou representar!

Nem foi preciso chamar, pois o chefe havia ouvido a algaravia e ja estava la.

- Me chamaram de gay estressado!

- Isso eh grave, muito grave - disse o chefe tentando contemporizar.

E como nao era politicamente correto, o chefe acrescentou uma emenda que complicou ainda mais:

- Nao se pode ofender a honra de um homem!

- Olha aqui, meu senhor: largue mao de ser preconceituoso. Gay eu sou, com muito orgulho. Me ofendi foi com me chamarem de estressado! Aqui nao tem medico!

O advogado representou contra Camilla. Apurados os fatos, nada ficou provado contra a moça. Assim como permanece uma incognita se o contribuinte era ou nao estressado.


Os nomes constantes neste texto sao ficticios. Qualquer igualdade com o nome de pessoas reais tera sido mera coincidencia.  
 

13 julho 2011

Sob o Comando do Olhar - Escrevendo Com os Olhos


O astrofisico ingles Stephen Hawking e  seu computador especial.


Alguns amigos me escrevem pedindo para eu contar como funciona o computador que me permite escrever com os olhos.

Um instante antes de desvendar os misterios dessa curiosa tecnologia, confesso que me impressiona muito mais ler com as maos do que escrever com os olhos. A habilidade de usar o Braille para ler tao ou mais rapido do que fazemos com os olhos permanece, para mim, um misterio insondavel. O bicho-homem parece nao ter limites para se adaptar as situaçoes mais adversas.


Prossigamos: a tecnologia que poe o computador sob o comando dos olhos faz parte do sistema chamado Eye Response Technology.


Uma potente camera emite um facho de raios infravermelhos nas pupilas. Eh feito um rapido processo de calibragem de 30 segundos, e o computador esta dominado. Nao apenas para escrever, mas ainda para navegar nos menus do windows, fazendo tudo o que eh possivel fazer num computador: navegar na web, realizar transaçoes bancarias, escrever e falar nos chats etc.

Escrever com os olhos num espaçoso teclado virtual resulta mais rapido do que digitar, nao somente pela maior agilidade dos olhos, mas tambem porque o teclado virtual oferece opçoes de autocompletar palavras e mesmo frases. Um breve exemplo: se eu digitar as letras OL, uma das opçoes oferecidas sera: OLA! Se eu aceito esta opçao, imediatamente aparecem algumas frases completas contendo a palavra OLA. Uma das frases pode ser: OLA! COMO VAI...Por obvio, a logica subjacente eh: nao perca tempo - digite duas ou tres letras e ganhe uma frase completa.


Ao contrario do que se pensa comumente, nao existe necessidade de piscar para acionar o cursor, o que seria equivalente ao clique nos mouses de mao. Basta apenas olhar para o local desejado e instantaneamente o comando eh acionado.  

 O computador tambem fala, e nisso nao ha novidade, ja que qualquer pc pode fazer o mesmo, se contiver um programa de voz. Meu computador usa o sistema de voz compativel com SAPI5, que corresponde  a voz natural das pessoas. Ha muito ficaram para tras aquelas vozes robotizadas,meio esquisitas, que causavam estranhamento ao ponto de tirar a naturalidade de uma conversa.


Antes da chegada do computador, meu caçulinha de 4 anos - por nao estar alfabetizado - nao conseguia falar comigo. Quando o computador made in USA chegou, necessitei de uma semana para doma-lo. Lembrarei para sempre o espanto do Mateus quando me ouviu pela primeira vez:

- Mateus, querido, quer bater papo com o papai...

Em vez de me responder, respondeu e saiu correndo pela casa, anunciando :

- O papai falou comigo...falou comigo!

Foi entao que compreendi que, no meu caso, a bonita maquina que me obedecia aos olhos era muito mais do que uma maquina, era praticamente um orgao externo de meu corpo. A felicidade de um menino de quatro me ensinou mais do que o extenso manual em pdf que tive de debulhar. La vie est belle!

Para quem quiser saber mais:

12 julho 2011

Quem Sao os Amigos da Onça!

A corrupção é a maior praga nacional. É preciso destruí-la. Mas Como? Fazendo discurso pó-de-arroz, seminários de ética e passeatas?  Não. É dessas coisas que os corruptos gostam.

Corrupto detesta mesmo é investigação, prova e punição. Por isso, vai a seminário de ética, aplaude entusiasmado quando não chega mesmo a discursar; "meninos, eu vi", ninguém melhora nem morre de tomar placebo. Com tantos amigos da onça fazendo embromação, urge perguntar? "Onde está o inimigo do bicho?"

Quem não quer combater a corrupção faz apenas seminário de ética. Rola o maior blá-blá-blá, enquanto a roubalheira segue firme e impune. Uma das medidas urgentes para se combater a praga nacional é identificar os órgãos a quem compete a tarefa e, apesar disso, mantem-se inoperantes.

Comecemos por exigir ampla publicidade à estatística de punições deles a cada período, compará-las com as de outros órgãos análogos e estabelecer uma espécie de produtividade de curva forçada para os burocratas que só fazem relatórios chinfrim, enquanto as ratazanas roem o dinheiro público bem debaixo do focinho deles.

Já que roubar é uma realidade, deixar de apurar e punir só pode ser a outra face da corrupção. Deveriam ser extintos alguns órgãos que não fazem nada e nem querem saber de fazer, como demonstrado pela estatísticas dos resultados míseros. Cito como exemplo de inutilidade a Comissão de  Ética  da Presidência da República, que revelou o quanto é capenga quando se trata de investigar  ministro acusado de ser corrupto. Não contentes com não fazer nada, ainda viram advogado de defesa do suspeito. Amigos da onça!

11 julho 2011

Uma Brincadeira Que Custou Caro a Vincent



Vincent Dal-Moulin Rouge era daqueles que perdia o amigo e nao a piada. Especialmente se o amigo nao fosse tao bom quanto a piada.

Certa vez, o Vincent viu uma cena que jamais esqueceria pelo resto da vida - e que lhe gerou tres reaçoes quase ao mesmo tempo - e todas num lapso de segundos. A primeira reaçao foi a mais natural delas: estupefaçao. A segunda, inconformidade. E a terceira, enfim, caiu no leito natural: a comicidade da cena.

Adiantemos que Vincent pagou caro pela brincadeira: teve a autorizaçao de viagens negada para dar aulas na Ezzaf, onde era instrutor, teve os treinamentos cortados e tudo mais a que tem direito um perseguido.

Somente muitos anos mais tarde eh que o Corregedor M. Leon o resgataria do confinamento, ao convoca-lo para auxiliar nos trabalhos da Corregedoria. As convocaçoes do Corregedor nao podiam ser recusadas, e Vincent acabaria dando uma destacada contribuiçao para pegar uns quinze corruptos de grosso calibre.

Passemos agora a cena que Vincent Dal-Moulin viu, para seu azar: aconteceu em Porto Alegre, nos corredores  de um dos edificios que dao para o belo por-de-sol do Rio Guaiba.

A passos largos, denotando que estava atrasado para o voo, ia o Secretario Hoziris, ha nao muito falecido, de boa memoria entre nos. Um pouco mais atras, devido as passadas mais curtas e por carregar a pesada mala do Secretario, seguia o Super10 Dejair Cardos.

- E ai, dr. Cardos! Dando uma de carregador de mala do do secretario, hein! Vai ser promovido! - gritou o desavisado colega.

Pronto. Tava feita a porquera. Hoziris deu uma breve risada e apertou a mao de Dal-Moulin, nisso dando tempo para Dejair Cardos alcança-lo.

Dejair Cardos, pelos anos a fora, jamais perdoaria a revelaçao de um abscondito segredo de oficio. Dal-Moulin ainda tentou atenuar dizendo: Brincadeira, dr.Dejair. Mas ja era tarde. Dejair Cardos fechou-lhe a cara, e Dal-Moulin pode ler nos olhos dele a seguinte mensagem: Tu me paga.

E pagou, como dito. Num belo poema de Edgar Allan Poe, um corvo agourento aparecia dizendo: nunca mais! nunca mais!

Viagens...nunca mais! cursos...nunca mais! ferias em janeiro...nunca mais! cargo de confiança...never more!

Quando acabou o mandato do Corregedor, Vincent Dal-Moulin Rouge recusou-se retornar ao cativeiro. Foi trabalhar e viver em Floripa, feliz da vida. 

09 julho 2011

O Segredo da Longevidade de Dejair Cardos



Dejair Cardos ja ia completar 20 anos a frente da Super10.


Intrigava a todos como um sujeito podia manter-se por tanto tempo no cargo, de onde viu passar uma fileira de secretarios. Alguns ate achavam que essa longevidade deveria ser objeto de estudo das ciencias sociais. Mais exatamente: haveria que buscar na obra do alemao Max Weber, que estudou profundamente o fenomeno da burocracia, para entender o Super10 Cardos.  


Um dia, Koyanicovz e M. Leon viajaram a Porto Alegre. Foram gentilmente recebidos por Cardos, num encontro sem pressa, somente limitado pela  hora do aviao.


- Olha, estou pasmo com a administraçao do dr. Lastforever! Nunca vi coisa igual, e nao eh de ontem que to aqui - arrematou Cardos, prosseguindo em mais um juizo:


- E pensar que o homem eh formado em...como eh mesmo...esta faculdade em que se estudam as pedras deste a prehistoria... Ah, sim: geologia.

E concluiu com a voz quase embargada:

- Voces nao vao me dizer que um homem especializado so nas pedras chega e alavanca a arrecadaçao assim nao eh um genio! Coisa impressionante!


E fitou Koyanicovz, esperando o rebote. Koyanicovz, discretamente, preencheu o vazio, com uma palavra:


- Parece um caso de versatilidade.


- Eh pouco, muito pouco! Versatil sou eu. Nosso chefe eh um genio!


Chegara a hora do voo, e os visitantes despediram-se de Cardos.

Quando assumiu a Corregedoria, M. Leon retornou a Porto Alegre, para dar aulas aos novos auditores que faziam o curso de formaçao. Na sexta, dia do retorno, fez uma visita protocolar ao Super10, acompanhado por um colega.


Como sempre, Cardos recebeu-os gentilmente. Apos as saudaçoes de praxe, com os comentarios sobre a Super10 e os trabalhos da correiçao, Cardos emendou:

- Este moço, o dr. Fahrid, esta me saindo melhor do que a encomenda.

E prosseguiu:

- Quem dissesse que, depois do dr. Lastforever, viria alguem ainda melhor corria o risco de ser enfiado numa camisa-de-força, e ate eu ajudaria a domar o doido. Mas nao eh que o doido tava certo...a arrecadaçao!

Nao se sabe como, repentinamente, o nome do colega Vao Real surgiu na conversa.

- Enquanto eu estiver por aqui, esse cara vai pastar! - disse Cardos, fazendo aquele biquinho, que indicava a decaida subita do humor.

M. Leon, que conhecia Vao desde os tempos de universidade, deve ter pensado: vai pastar por uma boa invernada o colega, a julgar pelo tempo que o homem ainda quer ficar na Super10.

Cardos tinha esse pequeno problema: era intolerante e um tanto desaforado com os subordinados. Quase 20 anos como Super10 ja lhe assegurariam essa intemperança, se ele acaso nao a trouxesse de berço.

A um colega que lhe passou uma mensagem, dizendo que nao poderia participar de um treinamento por estar em greve, Cardos respondeu:

- Me faça o favor de nao participar deste  treinamento e de nenhum outro.

Quando Fahrid foi defenestrado pelo ministro que tambem demitiu os corruptos aliados, Alina V. assumiu o comando da Secretaria.

Vinda do movimento sindical, Alina deu o bilhete- azul a Cardos e resgatou Vao Real do pasto dos perseguidos. E o pos sentado na mesma cadeira que Cardos havia esquentado por quase duas decadas. Nao se deve cuspir contra o vento.

Cardos foi-se embora para sempre. Virou mais um consultor, nao se sabe desde quando. Tampouco se conhece sua opiniao sobre a genialidade de Alina.



08 julho 2011

A Exoneraçao Em Favor Do Colarinho Branco



Tendo recebido a ordem do Dr. Lastforever para afastar Del Mar do comando da Inteligencia, Georgetown Fahrid convocou-o para uma reuniao a uma e meia da tarde, la no setimo andar.

- Boa tarde, Fahrid.

- Boa tarde. Senta, senta, precisamos conversar.

- Pois nao - disse o chefe da Inteligencia, acomodando-se na cadeira.

Fahrid estava com o olhar em falso. Olhava nervosamente para os lados, para baixo, evitando fitar os olhos de Del Mar.

Finalmente, entabulou um principio de conversa:

- Voce parece que ta querendo voltar pra sua terra natal, o Rio. Quem eh carioca ta sempre voltando...

Del Mar achou que estava recebendo um convite para ser o superintendente no Rio.

- Olha, Fahrid, o dr. Lastforever, dessa mesma cadeira ai, ja me convidou por duas vezes, e eu recusei. Gosto mesmo eh de investigar.

- Nao, nao eh um convite - disse Fahrid nervosamente, ainda com o olhar em falso. E por fim encarou o interlocutor:

- Vou precisar do seu cargo. Temos que fazer mudanças na Inteligencia!

- O que! Voce ta me exonerando! Mas que palhaçada eh essa...Mal fui nomeado. Exijo uma explicaçao, e agora mesmo.

Eh que eu recebi uns relatorios da inteligencia e nao posso revelar o conteudo - respondeu Fahrid. 

Nesse ponto do dialogo, ficava claro que Fahrid mentia. Del Mar era parceiro de trabalhos da Abin, da PF e tinha boas relaçoes com os militares.   E as pesquisas sao feitas previamente a investiduras em altos cargos, nunca depois. Os relatorios a que Fahrid aludia, nao sendo dos verdadeiros orgaos de inteligencia, somente poderiam ser os da bandidagem.

Del Mar virou as costas e saiu, sem dizer uma palavra.

Fahrid nomeou um interventor na Inteligencia. Mal chegado, o sujeito ja foi expedindo a seguinte ordenança: estavam os chefes locais proibidos doravante de passar informaçoes a Corregedoria.

O Corrededor M. Leon deu 48 horas para que o interventor explicasse a ordem ilicita. E visto que nada explicou, abriu um inquerito contra ele.   

07 julho 2011

A Ordem Era: Protege os Nossos Bandidos



Del Mar Vasconcelos jamais imaginaria que pudesse ser afastado do cargo de chefe da Inteligencia por Georgetown Fahrid, apenas 42 dias apos ter sido nomeado.

Fahrid, que o convidara cheio de elogios e mesuras, nao esperava que ele fosse investigar de verdade. Del Mar queria pegar dois bandidos da pesada. Eles faziam legislaçao sob encomenda e ganhavam rios de dinheiro. Para aquela dupla contar milhoes era coisa banal, corriqueira. A bandidagem do colarinho branco corria solta como nunca. Tudo sob o olhar cumplice do dr. Lastforever - que os havia nomeado para a alta cupula do orgao.  

Fahrid fazia o que o dr. Lastforever mandava. Se a Inteligencia passasse informaçoes para o Corregedor M.Leon, ele abriria processo para demitir a dupla. E o fio da meada estaria a descoberto. Dr. Lastforever estava muito inquieto.  

O Corregedor M. Leon estava no inicio do mandato de um mandato estavel, e nao poderia ser afastado.  

- M. Leon, voce viu...tao deitando e rolando! Um deles ate ja comprou  apartamento na douce France - disse Del Mar inconformado.

- Entao vamos atras deles.  Me passa as informaçoes, e estouramos aquela empresa que elem montaram pra lavar.

Del Mar passou tudo. A empresa fantasma teve os documentos apreendidos pela Corregedoria. E o que se viu foi um festival de horrores da corrupçao.

E assim Del Mar foi afastado pouco mais de um mes apos ter sido nomeado. Afastamento que foi uma medida preventiva do crime para safar-se. Mas veio tarde. 

Havia um mandato de um corregedor no meio do caminho.  



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No proximo post: detalhes do dialogo da exoneraçao. Face to face com Del Mar, Fahrid quase se escondeu debaixo da mesa.

06 julho 2011

Dez Mil Acessos


 Obrigado, leitores deste blog, muitissimo obrigado! Com apenas um mes e uns poucos dias, o blog ja ultrapassa 10.000 acessos.
Prosseguirei contando e analisando a verdadeira historia da corrupçao, pois com um estimulo deste tamanho torna-se, acima de tudo, um dever.