17 agosto 2011

Ladroagem De Alto A Baixo!



- Por Deus, eu juro! Nunca carreguei nada que nao fosse meu.

- Mas como explica o sumiço de 150 celulares motorola da sala ao lado...

- Eu nao sei, doutor. So sei que eu nao fui.

- E o estoque de 50 mil folhas de papel consumido em apenas dez dias... 

- Uai! O povo tava copiando adoidado naquela semana. Achei ate que a maquina ia arriar! 

O Ze 27 era um agente administrativo, que batia ponto no setimo andar do predio sede do Ministerio da Fazenda, em Brasilia. Sobre ele recaia a suspeita de ter afanado nada menos do que 150 celulares novos, na caixa, que a Receita Federal havia comprado para distribuir as chefias. 

 Mas um detalhe estava quebrando a cabeça dos investigadores. Como ele teria passado  com a volumosa carga pela segurança, presente dia e noite na portaria central! A carga inteira sumiu em um mes. Se o ladrao tivesse roubado a prazo, mesmo assim teria que usar uma pequena mala, visto que teria que carregar cinco caixas por dia. E havia o enigma das 50 mil folhas de papel A4, que foram consumidas em pouco mais de uma semana! Por que diabos o xeroqueiro iria querer tanto papel!
 
A comissao investigadora chamou  os seguranças:

- Conhecemos o seu Ze 27, e ele sempre sai pela portaria de maos abanando - disseram todos.  


Nada havia contra o Ze, senao o primeiro impulso dos investigadores de considerar o homem um suspeito. A certa altura, um membro da comissao arguiu: Tamos fazendo papel de besta, e ainda escolhendo o mais humilde pra Cristo. Por que o ladrao nao poderia ser um Analista ou Auditor, me digam!    

Ninguem disse nada! A constataçao havia calado fundo no trio investigador, que ja sentia pesar-lhe nos ombros o infarto do Ze na vespera, decerto provocado pela pressao das inquiriçoes. No domingo, o presidente da comissao entendeu ser humanitario visitar o Ze no hospital. Na segunda, foi surpreendido: o advogado pediu a juntada aos autos de um termo de constataçao, cujo titulo ja dizia tudo:  abuso de poder levou a comissao a interrogar paciente no leito de morte. Mas o Ze, maçudo e forte, recuperou-se bem, e um mes depois ja estava a postos, tirando xerox para o andar inteiro. E tinha a defende-lo um advogado de morte!  


A comissao ja se preparava para encerrar o inquerito por falta de autoria. Para um crime, no entanto, certo. Teria que assumir o desgate pelo malogro na investigaçao, fora ter que suportar os piadistas no aguardo.  De subito, um vogal teve uma ideia: Colegas, muito mal comparando, mas se voces roubassem 150 motorolas na caixa, onde eh que iriam vender... 

- Nao faço ideia - disse um. 

- Nem eu - disse o presidente.  

- Pois bem se ve que voces nao entendem de ladroagem! Aqui em Brasilia, so na feira do paraguai. Vamos la! Agora!

Chegando a feira, logo descobriram um vendedor que tinha um lote dos celulares:

- Voce ta vendendo coisa roubada da Receita. De quem voce comprou...

- Num me lembro, fregues!

- Esquecidinho, hein! A policia vai dizer que foi voce. Te prepara!

- Perai. Foi do homem da brasilia laranja, que vende caderno.

- Qual o nome dele...

- Ze.

Estava esclarecido o caso. Era mesmo o Ze 27 o autor da proeza. Depoimentos de alguns feirantes e copias de cheques demitiram o o homem. Descobriu-se tambem que fim levou aquela montanha de papel: caderno. Ele traçava linhas numa folha de papel e mandava a copiadora trabalhar. Depois, furava, colocava a espiral e ia abastecer a feira do rolo.

Ja fazia um mes que o diario oficial havia mandado o nosso recordista passear, quando o ex-presidente topou com  ele, zanzando  no Conjunto Nacional.

- Oi, Ze. Ja arrumou emprego...

- Trabalho por conta, doutor. Sou encanador.

- Bem, voce foi expulso, e o nosso jogo acabou. So queria saber uma coisa na vida: como eh que voce fez pra passar com 150 caixas de motorolas...

- O que eu ganho com isso...

- Que tal uma caixa de ferramentas agora mesmo...

- Posso escolher...

- Pode, Ze, pode.

- Olha aqui, doutor! Desci tudo pela corda, da janela dos fundos. Em noite sem lua.

A comissao tinha aventado essa hipotese, logo descartada por parecer fantasiosa. E, no entanto, era verdadeira. O Ze saiu feliz com a caixa de ferramentas, de serventia ao seu novo oficio.

Foi facil por na rua o vendedor de cadernos e celulares. Muito mais dificil seria dar o mesmo destino aos vendedores de legislaçao, que nao aceitariam caixas de ferramentas, mesmo depois do bilhete-azul. Por esse tempo, enquanto o xeroqueiro, ajudado pelo  breu da noite, baixava telefones por uma corda, o dr. Lastforever e sua trupe baixavam atos normativos sob encomenda - e iam fazendo fortuna.

Eita! ladroagem de alto a baixo! 


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