03 junho 2011

Albert Camus e a Liberdade Humana


Acabo de ensaiar um breve colóquio com o filósofo e escritor Albert Camus, que responde de pronto. Ele, ateu, humanista e defensor incondicional da liberdade. Contra os totalitarismos e descrente das revoluções. Incréu abnegado. Apesar disso, parece um quinto evangelista em muitos de seus juízos, de impactante profundidade.
É certo, Camus não escolheu o apostolado. Como juntar, pois, seu pensamento iluminado por conceitos lapidares de justiça e amor, num chamado à elevação, com o declarado ateísmo? Talvez - quem sabe? - recordando uma advertência: "Não fostes vós que me escolhestes, fui eu quem vos escolhi". Vejamos, pois.




Pergunta - De que adianta fazer tanto esforço para resistir? Vezes há em que as melhores coisas da vida nos vêm quando menos esperamos. Há um destino que depende de nós, ou devemos parar de inquietar-nos com o dia de amanhã?


Camus - "Ir até o fim não é somente resistir, mas também deixar-se ir"
(Aller jusqu'au bout, ce n'est pas seulement résister, mais aussi se laisser aller")


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Pergunta - como vencer um debate sem ter razão, segundo ensinou Schopenhauer? Vivemos de debater, tentando impor os nossos argumentos aos outros, e nos envaidecemos disso.


Camus: "A necessidade de ter razão é marca do espírito vulgar"
(Le besoin d'avoir raison - marque d'esprit vulgaire)


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Pergunta - O que é mais trágico para o homem, na sua angústia existencial: a miséria em vida ou a certeza da morte?


Camus - "O maior dos tormentos humanos é ser julgado sem lei"
(Le plus haut des tourments humains est d'être jugé sans loi).


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Pergunta - Como agir diante do inimigo, devemos enfrentá-lo ou desprezá-lo?


Camus - "Toda forma de desprezo, se ela intervém na política, prepara ou instaura o fascismo"
(Toute forme de mépris, si elle intervient en politique, prépare ou instaure le fascisme)


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Pergunta - Corrupção vitoriosa, crimes infindos e violência, o medo assombra nas ruas. Dá ainda para acreditar na espécie humana?


Camus - "Há nos homens mais coisas a admirar do que a desprezar"
(Il y a dans les hommes plus de choses à admirer que de choses à mépriser)


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Pergunta - O governo deve ser dos sábios, como ensinou Platão, ou a democracia deve dar a qualquer do povo a oportunidade de mandar?


Camus - "Os imbecis sempre foram explorados, e é justo. O dia em que eles deixassem de sê-lo, eles triunfariam, e o mundo estaria perdido"
(Les imbéciles ont toujours été exploités et c'est justice. Le jour où ils cesseraient de l'être, ils triompheraient, et le monde serait perdu)***
Pergunta - Tu, sendo ateu convicto, que dizes sobre João - "Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará"?


Camus - "Somente a verdade pode fazer face à injustiça. A verdade ou o amor"
(Seule la vérité peut affronter l'injustice. La vérité, ou bien l'amour)


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Pergunta - A compaixão é sentimento dos fracos, como pensava Nietzsche, ou é virtude?


Camus - "Quem precisaria de piedade, senão aqueles que não têm compaixão de ninguém!"
(Qui aurait besoin de pitié, sinon ceux qui n'ont compassion de personne!)
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Pergunta - Estamos mesmo perdidos no espaço, sem Deus? As revoluções nos levam a um paraíso feito pelos homens?


Camus - "A revolta é uma ascese, embora cega. Se o revoltado ainda blasfema, é na esperança de um novo Deus".
(La révolte est une ascèse, quoique aveugle. Si le révolté blasphème alors, c'est dans l'espoir d'un nouveau Dieu)


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Pergunta - A cobiça das coisas dos outros instaura a violência entre os homens. Como vês o desejo de posse?


Camus - "Eu não sei possuir"
(Je ne sais pas posséder)

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