09 junho 2006

Era Vidro e Se Quebrou

A grande avenida da sonegação-sul. "Sonegadores, passem. Vândalos, entrem"

As imagens desoladas do posto fiscal de Guaíba, associadas às do Congresso Nacional espatifado pela ação dos terroristas, são os símbolos da semana que vai fechando: num caso, expõe as vísceras do estado gaúcho à beira da falência; noutro, o Estado de Direito sob ameaça.
O governo gaúcho estropiou-se e abriu o vão livre para a passagem da sonegação do ICMS. Um compromisso de campanha foi, afinal, cumprido - passa boi, passa boiada, passa-tudo, os espertos "sem nota fiscal " têm agora a avenida da sonegação-sul liberada, bem como exigiram, pois é dando que se recebe.
Onde havia técnicos da Fazenda controlando, resta apenas o cenário desolador de um prédio público abandonado, os vidros estilhaçados pela ação dos vândalos, talvez uns pobres diabos em busca de alguns restos de móveis e objetos de pouco valor. O governo Rigotto foi minando aos poucos - e de forma traiçoeira - a fiscalização tributária. Nem mais telefone havia no posto, pois a decadência já se anunciava. Finalmente, o golpe fatal - o abandono e a entrega do prédio ao vandalismo, após a abertura da grande avenida da sonegação, que liga o sul do estado a Porto Alegre. É a maior obra deste governo, faltando-lhe só a placa de inauguração, cuja inscrição é aqui sugerida: "Avenida sonegação sul - onde passam o cidadão e o ladrão".
É tempo de quebra de vidros e também do estado gaúcho. Não há mais recursos para investimento, e a dívida pública, impagável, faz do Rio Grande do Sul um estado refém. O governo omisso deixa seu povo à mercê dos espertalhões e vigaristas, que se refestelam no passe-livre. Eles estão embolsando o ICMS já pago pelos consumidores gaúchos - essa turma sabe como investir em política. Já se conta nos dedos quantas vezes recebemos uma nota fiscal quando vamos às compras. É só recibo e o "deixa sem nota, que eu garanto".
Onde anda a fiscalização? Não há uma voz que se levante contra isso?
Aí está, portanto, o resultado do plantio do senhor Rigotto nos pampas: sucessivos tombos na arrecadação do ICMS, que fazem o Rio Grande do Sul cada vez mais ausente nas políticas públicas de educação, de saúde e de segurança. Nesta semana, no meu bairro, um de nós, que levava a família para casa, recebeu ordem do bandido para descer e entregar a chave do carro. Submeteu-se à autoridade do criminoso, mas de nada lhe valeu. Acabou fuzilado diante da mulher e da filha de 12 anos, aterrorizadas.
Estamos, os gaúchos e os de cima do mapa, ao desamparo. Não há polícia que nos proteja, a segurança pública também se espatifou, como a vidraça da foto do posto fiscal esbulhado. Quem será o próximo a ter de descer do carro sob mira de 38?
O estado sumiu, e os bandidos invadem aos borbotões. Nos dias de hoje é bom que se proteja, como nunca antes. A noite virou o véu do crime, e as bonitas ruas de Porto Alegre já são um perigo para os passantes, amedrontados.
Nosso espanto parece não ter fim. Os tagarelas no governo prosseguem falando em reforma tributária, enquanto vão, numa prática solerte, sabotando as finanças públicas, desaparelhando o estado e a polícia, abrindo alas para os sonegadores de impostos e para os bandidos nas ruas.
Mas já não basta de fanfarrões? Estamos anestesiados ou perdemos a capacidade de lutar de nossos antepassados?
O indômito espírito farroupilha não nos pede nada menos do que enxotar os "bunda-moles", que minam as energias do estado e, com isso, colocam o seu povo sob as patas da brutalidade e do desalento todos os dias.
Mandemos essa turma para casa. Condenemo-los a não estorvar o Rio Grande do Sul. Os gaúchos nada têm a perder senão um governicho doente de ruim, que os arruina.

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