29 junho 2006

Agüenta a Lei Que Tu Mesmo Fizeste

Estamos, pois, "conversados". É 34% a rodo para os auditores-fiscais da Receita Federal, tudo o mais permanecendo constante, as distâncias entre as classes/padrões e a perfídia contra os aposentados, que ficam numa situação relativa pior do que antes.
No intervalo de um par de dias, a proposta indecente de 3 ou 9%, feita diante de um dos maiores arrochos de salário suportados pela categoria, cedeu lugar à de um aumento de 34%, com alterações nas gratificações dos auditores-fiscais, que, no entanto, permanecem aquém do patamar reivindicado.
Não sendo uma negociação, a coisa vem - como dizer? - goela abaixo mesmo.
Contudo, para os auditores e sua entidade de classe, não há nenhuma obrigação de passar recibo. Basta agora dar de ombros e receber o pagamento parcial desta dívida, que aguardará oportunidade futura para ser executada na diferença a menor.
A esdrúxula proposta dos 3,31% aos de início de carreira veio abaixo. Era o método soviético de negociar posto em ação na undécima hora pelo governo (ver posts abaixo); a súbita alteração, com a multiplicação da oferta em mais de 10 vezes, apenas comprova o simulacro de negociação, que foi negada como tal pelo próprio Secretário de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento, Sérgio Mendonça. Antecipei aqui que a nova proposta viria com percentuais mais generosos, não por dote divinatório senão por reconhecer o simulacro desde o início.
Aos sindicalistas presentes foi comunicada, enfim, a edição de uma medida provisória para amanhã e dito nada mais haver para negociar: eis aí o fato consumado. Nada como ter um presidente sindicalista.
Que fazer? Dado que não se pode impedir a edição da MP imperial, resta ler o Pravda.
Deixem estar, por ora. O governo cavou o próprio buraco para enterrar a esperteza malandra. Os dividendos políticos e o reconhecimento que receberá serão os mesmos dispensados ao caloteiro quando paga ao credor metade do que deve, após o ter provocado com a encenação de pagar uma mixuruquice.
Novos lances virão, porque a luta só se pode dar por acabada quando se atingir, como proposto:
1) um patamar de salário que elimine o desnível entre os auditores-fiscais e outras carreiras do Executivo, que em nada realizam funções mais essenciais do que as do Fisco;
2) a incorporação ao vencimento básico dos penduricalhos e gratificações que se vão acumulando nos contracheques, a fim de mitigar a discriminação contra os aposentados, que vêem seu direito à integralidade da remuneração pisoteado de forma cruel e ilegal;
3) um escalonamento da carreira de modo a reduzir as diferenças entre o início e o final;
A Unafisco poderia ainda aproveitar esta quinta-feira na véspera e exigir a retroação da nova "proposta" a janeiro deste ano, sem assumir nenhum compromisso, já que, está dito, não é negociação. Mesmo não sendo, finjam que é e exijam mais uns caraminguás atrasados. Pode dar certo, pois esse método de negociação que nega a si próprio não opera com a lógica nem com o bom senso. Que tal ouvir ainda essa? "Comunicamos que o aumento será retroativo a janeiro, e esse objeto é fixo na MP, sendo, pois, inegociável"...
Ora, não descreiam: "Tout est possible avec ces gens-là!"
Não é negociação? Pois que não seja; contudo, convém lembrar entre nós que mesmo essa nova proposta majorada não viria, se não fosse o enorme esforço e combate travados. Os 34%, se a tanto chegar o aumento, pelo alcance de metas incertas, podem dar um fôlego, não mais que isso.
Nessas condições, não há derrota possível, ainda que os auditores-fiscais decidam pela suspensão da greve. Pois ficam desobrigados do compromisso que só a apreciação do pleito, em face de uma negociação verdadeira, faria surgir.
Estão, portanto, desimpedidos para, a qualquer momento, voltar à carga e exigir a quitação da fatura, afixando a seguinte ordem-do-dia para o rei: "patere legem quam ipse tulisti" - Agüenta a lei que tu mesmo fizeste.

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