Mundinho vivia no seu mundo - o mundo da Economia. Funcionario dedicado da Receita Federal, ele batia ponto na primeira hora e encerrava o expediente na undecima. Entretanto, quando se punha a discorrer sobre cambio e taxas de juros, era uma revoada de colegas em fuga. Nao que ele arguisse com desproposito os temas da misteriosa ciencia. Pelo contrario, fazia-o com fundamento e logica - segundo atestavam os iniciados. O problema, diziam os que evacuavam o local da palestra, eh que era sempre uma palestra. Ele nao sabia bater papo, nem numa roda de cafezinho. Para piorar, o tom da voz era soporifero. O cafezinho nao lograva espantar o sono dos dois ou tres que ficavam por ultimo a ouvi-lo, constrangidos em acompanhar a revoada. Falava como se estivesse em transe. Alguns gozadores asseveravam que, em ele falando, jamais notaria quando o ultimo colega desse no pe!
Um dia veio em que Mundinho nao apareceu na repartiçao, para estranhamento geral. Por anos a fio, ele nao havia faltado uma so vez. E veio o dia seguinte, e nada do economista. No terceiro dia, mais ninguem ja podia conter-se. Cade o Mundinho...Dado que o telefone nao era atendido, rapidamente os colegas elegeram uma dupla para ir atras do homem, que morava no fim da Asa Norte. A campainha estragada nao impediu a dupla de espiar, estando a porta entreaberta.
- Oh de casa! - disseram batendo palmas - ja entrando na sala.
- Quem sao voces...- perguntou a empregada.
- Colegas de trabalho. Mundim esta...
- Ta sim. Mas faz tres dias, ele nao sai do quarto nem pra comer. So naquele computador, pediu pra ninguem entrar.
- E a familia...
- A esposa viajou com as crianças. Nao me disse pra onde.
- Ok, moça! entao ele ta bem...
- Ta sim, doutor, eu levo comida todo dia. Mas a barba ta crescendo, e eu nao escuto o ronco do chuveiro!
De volta a repartiçao, anunciaram um palpite certeiro.
- Mundinho esta trancado no quarto, fazendo uma tese de economia.
E la estava nosso economista, as voltas com um intrincado problema: como abaixar os juros sem elevar o dolar. Seria o ministro da Fazenda o destinatario da tese. Com uma semana de trabalho e noites insones, Mundinho protocolizou no Ministerio da Fazenda a tese, que tinha por subtitulo uma exortaçao: Um Plano de Salvaçao Nacional!
No mesmo dia, telefonou ao chefe e disse que estaria impedido de retornar ao trabalho antes que o ministro o convocasse, posto que haveria de estar em concentraçao total para responder as duvidas do chefe-maior.
- Mundinho pirou! - disse consternado o chefe aos funcionarios. - Isso ainda vai dar em demissao por abandono de cargo.
Com vinte e oito dias de faltas consecutivas, foi uma pequena comitiva desesperada, tentando demover o economista a nao esperar pelo chamado do ministro e voltar ao trabalho. Aumentou o desespero dos colegas, quando o viram atender a um oficial de justiça: a esposa entrara com um pedido de pensao alimenticia para ela e as crianças.
- Um colega, exasperado com a teimosia, sacudiu-o com força:
- Acorda, homem! Voce ta destruindo a sua vida e a da familia por uma tara! Volta pra Receita hoje. Vai todo mundo te ouvir! Eu garanto!
- Calma pessoal. Eu sei o que to fazendo. Voces tao vendo o micro, e eu o macro.
Com mais de 30 dias de faltas consecutivas, Mundinho foi demitido. Defendeu-se muito mal no processo. Quase um ano depois, convencido pelos colegas - melhor dito: verdadeiros amigos - de que aquele ministro nao valia nada, e somente por isso nao o havia chamado, Mundinho decidiu contratar um bom advogado, obtendo finalmente a reintegraçao.
O defensor nao teve a menor dificuldade para alegar em juizo delirio persecutorio e megalomania, em suma, um surto de piraçao, tudo devidamente corroborado em laudos psiquiatricos.
O mais perfido efeito da megalomania, creio eu, eh nos empurrar ladeira abaixo, enquanto nos ilude de que estamos subindo. Em Mundinho, foi um surto tratado e vencido. Em outros casos, contudo, pode arrastar-se por demasiado tempo, fazendo o sujeito convencer-se, a si e aos outros, de que eh um Napoleao sem Waterloo. Ai de ti, que te adoras sobre todas as coisas!
Um dia veio em que Mundinho nao apareceu na repartiçao, para estranhamento geral. Por anos a fio, ele nao havia faltado uma so vez. E veio o dia seguinte, e nada do economista. No terceiro dia, mais ninguem ja podia conter-se. Cade o Mundinho...Dado que o telefone nao era atendido, rapidamente os colegas elegeram uma dupla para ir atras do homem, que morava no fim da Asa Norte. A campainha estragada nao impediu a dupla de espiar, estando a porta entreaberta.
- Oh de casa! - disseram batendo palmas - ja entrando na sala.
- Quem sao voces...- perguntou a empregada.
- Colegas de trabalho. Mundim esta...
- Ta sim. Mas faz tres dias, ele nao sai do quarto nem pra comer. So naquele computador, pediu pra ninguem entrar.
- E a familia...
- A esposa viajou com as crianças. Nao me disse pra onde.
- Ok, moça! entao ele ta bem...
- Ta sim, doutor, eu levo comida todo dia. Mas a barba ta crescendo, e eu nao escuto o ronco do chuveiro!
De volta a repartiçao, anunciaram um palpite certeiro.
- Mundinho esta trancado no quarto, fazendo uma tese de economia.
E la estava nosso economista, as voltas com um intrincado problema: como abaixar os juros sem elevar o dolar. Seria o ministro da Fazenda o destinatario da tese. Com uma semana de trabalho e noites insones, Mundinho protocolizou no Ministerio da Fazenda a tese, que tinha por subtitulo uma exortaçao: Um Plano de Salvaçao Nacional!
No mesmo dia, telefonou ao chefe e disse que estaria impedido de retornar ao trabalho antes que o ministro o convocasse, posto que haveria de estar em concentraçao total para responder as duvidas do chefe-maior.
- Mundinho pirou! - disse consternado o chefe aos funcionarios. - Isso ainda vai dar em demissao por abandono de cargo.
Com vinte e oito dias de faltas consecutivas, foi uma pequena comitiva desesperada, tentando demover o economista a nao esperar pelo chamado do ministro e voltar ao trabalho. Aumentou o desespero dos colegas, quando o viram atender a um oficial de justiça: a esposa entrara com um pedido de pensao alimenticia para ela e as crianças.
- Um colega, exasperado com a teimosia, sacudiu-o com força:
- Acorda, homem! Voce ta destruindo a sua vida e a da familia por uma tara! Volta pra Receita hoje. Vai todo mundo te ouvir! Eu garanto!
- Calma pessoal. Eu sei o que to fazendo. Voces tao vendo o micro, e eu o macro.
Com mais de 30 dias de faltas consecutivas, Mundinho foi demitido. Defendeu-se muito mal no processo. Quase um ano depois, convencido pelos colegas - melhor dito: verdadeiros amigos - de que aquele ministro nao valia nada, e somente por isso nao o havia chamado, Mundinho decidiu contratar um bom advogado, obtendo finalmente a reintegraçao.
O defensor nao teve a menor dificuldade para alegar em juizo delirio persecutorio e megalomania, em suma, um surto de piraçao, tudo devidamente corroborado em laudos psiquiatricos.
O mais perfido efeito da megalomania, creio eu, eh nos empurrar ladeira abaixo, enquanto nos ilude de que estamos subindo. Em Mundinho, foi um surto tratado e vencido. Em outros casos, contudo, pode arrastar-se por demasiado tempo, fazendo o sujeito convencer-se, a si e aos outros, de que eh um Napoleao sem Waterloo. Ai de ti, que te adoras sobre todas as coisas!
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