27 novembro 2011

Codinome Beija-Flor

Ele eh Auditor-Fiscal da Receita Federal. Trabalha em... deixemos ignorado o local, pois temo que, revelando a cidade, eu acabe tambem por  lhe revelar a identidade, descumprindo assim minha promessa de mante-lo sob sigilo. Ele eh judeu. Pertence a uma naçao que sofreu perseguiçoes milenares e ainda hoje nao encontra sossego. Israel eh um enclave democratico cercado de ditaduras inimigas, que no passado recente tentaram destrui-lo. Israel venceu os inimigos, mas nao alcançou a paz. Eh talvez em razao das perseguiçoes sofridas que os judeus olham para os outros como se perguntassem: Voce me daria abrigo ou seria meu delator, caso as hordas nazistas ressurgissem do inferno...  

Pensei em dar-lhe um nome judaico ficto e por fim julguei melhor - ao ouvir uma bonita cançao - esconde-lo no codinome beija-flor. Ficamos combinados, entao: o Auditor-Fiscal aqui se chamara simplesmente Beija-Flor. Ele escreveu-me uma comovente mensagem, que transcrevo a seguir, para reflexao dos leitores dominicais do blog:


Bom dia, Moacir


hoje é o nosso dia.

Feliz dia dos pais!

E como presente, resolvi falar um pouco sobre mim.

Sabemos muito bem que sem liberdade, não temos igualdade nem fraternidade, muito bem!

Como explicar que séculos passados depois que cruzamos o Mar Vermelho, eu fui nascer no Egito, mais precisamente em Alexandria.

No mesmíssimo lugar de onde os judeus foram expulsos...

Essa contradição permitiu-me ao longo dos anos aceitar, de uma certa forma, as simetrias da vida.

Como se fôssemos simétricos, quando decidimos entre o bem e o mal.

Quando completei dois anos de idade, meus pais, que viajavam todo ano para a Europa, passaram a me levar com eles.

O conforto e a fartura acompanharam-me até os seis anos, até que Gamal Abdel Nasser expulsou os judeus do Egito.

Até hoje, a minha escala de comparações, quando defino algum juízo de valor, guarda como referência o momento da ruptura entre o passado e o futuro.

A minha riqueza material ficou no passado, enquanto que a minha vida ganhou sentido quando cheguei ao Brasil, mais precisamente no Rio de Janeiro.

Todas as vezes que eu me sentia triste recorria ao meu passado.

Todas as vezes que eu me sentia feliz, apostava no futuro.

A questão era que, no meu caso as oscilações, entre um momento de tristeza e o de alegria, tornavam-se cada vez mais frequentes, como contrações.

Aos 23 anos de vida, o meu quadro maníaco-depressivo havia tomado conta de mim.

Durante anos a minha vida foi um inferno.

O que fazer?

Enfrentar a desconhecido, afinal a minha referência entre passado e futuro estava quase que triturada, era o desafio lançado.

Quanto drama, hein?(Herdei o lado tragicômico da minha mãe)(rsrsrsrsrs...)

Trinta anos mais tarde, eu dividia um apartamento com um colega AFRFB como eu, em ..., que depois de algum tempo, aconselhou-me a abandonar a medicação.

Não consegui, momentâneamente, entender de quem fora o gesto de coragem.Dele ou meu?

Deixei o meu coração decidir e joguei pela janela um tratamento que eu seguia há vários anos.

Deu certo.A minha segurança fora resgatada.A minha paixão pela vida, quase esquecida, voltara.

Assim como eu, tu és um apaixonado pela vida.

Feliz dia dos pais apaixonado.

Tudo pela paixão!

Shalom!

Beija-Flor

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