20 maio 2006

Ave!, presidente: os que vão morrer te saúdam

Não falemos agora das pavorosas matanças em São Paulo. Lembremos das que ainda virão. Ai dos pobres que habitam nas cercanias do criminosos, e, a bem dizer, não só dos pobres. Ai dos vivos, que esperam. Pois as tragédias volverão, certas como o vaivém do astro-rei.
Não precisa ser uma pitonisa para antever o pior.
Pobre São Paulo, está à deriva, como uma nau governada por um insensato, que já não vê a hora de livrar-se do timão e jogar-se ao mar – mandando às favas os que lhe confiaram o mandato.
De uma hora para o senhor Cláudio Lembo acometeu-se de uma ira justiceira e arremeteu contra os “brancos e ricos”, atacando a fumaça. Só poupou os bandidos e o fogo certeiro do PCC, ao converter-se num libelu tardio. São Paulo pensava ter um líder quando Alckmin se foi. E o que viu? Um homem lamurioso e agourento, com afetações de cientista social, perfeitamente inútil para a função quando mais se precisava dele.
Não me surpreende que o vice de Alckmin tenha obtido uma solidariedade federal, que espertamente viu na algaravia do interino um bom samba - o PCC sendo a corda, e o “homem revoltado” a caçamba. Lembo-lá pois se o candidato Alckmin governa como escolhe vice, a arena que testemunha as execuções em massa gritará: "Ave!, Lula, os que vão morrer saúdam a reeleição".

Eles perderam toda a modéstia

O senhor Geraldo Alckmin pagará pelo seu vice, que nem mesmo prestará contas, pois já disse que cairá fora e anunciou o veredito de fancaria: “os culpados são os brancos e os ricos”. Ora essa, o homem é também um atiçador de conflitos raciais.
Conclamemos à fala dois gênios da raça, um negro e um branco, para exorcizar o mau agouro do senhor Lembo. Machado, põe Brás Cubas a falar de novo na campa e dizer desse vice-paulista que ele tem discurso de ressaca e intenções oblíquas e dissimuladas de libelu. E chama o alienista rápido. Nélson, repete aí, para o consolo dos sobreviventes, que a tragédia de São Paulo é a prova óbvia e ululante do sumiço do Estado e confirma em definitivo que os idiotas perderam toda a modéstia.
Bingo! O plano arranjado deu certo, nele o PCC fez a sua parte, o terror. Quem ganha nesta contabilidade macabra, em que os mortos rendem votos como se vivos estivessem? Foi, afinal, para isso que morreram. A nova conjuntura oferecida pelo PCC organizado a seus aliados será posta na rubrica dos “recursos não contabilizados”, sem direito à CPI para a oposição acovardada. É a vez de Lembo emprestar seu ventre para Alien, o 8º passageiro.
É certo que a covardia da oposição está acalentando o monstro que vai destruí-la; é pusilanimidade demais, omissão demasiada diante de tantos crimes. Somente o oportunismo e a corrupção dos princípios republicanos, a perda dos valores que fundaram o país, permitem a omissão dos oposicionistas, diante da ação dos quadrilheiros que assaltaram os cofres públicos e agora também dos brutais morticínios promovidos pelos terroristas, numa nova rodada do jogo sujo.
A longo prazo estaremos todos mortos

Em meio ao desespero da população, os demagogos retomam bem depressa a prédica de mercadores de ilusões, prescrevendo o remédio intangível: “Enquanto não houver melhor distribuição de renda nada adiantará”. Alguns intelectuais assinaram um manifesto, quase pedindo em nome dos bandidos, é bem verdade que de modo oblíquo e dissimulado, à capitu. São pessoas que se autoproclamam sensatas e vêm desde sempre insinuando que o perigo são os pobres. É mentira, pobres são as principais vítimas dos criminosos. A mentira não deixa de ser o que é apenas porque alguns dos provectos signatários do manifesto possam acreditar nela, por um processo longo de deformação do entendimento, usinado no campo das idéias e da cultura.

Ora, pois, as balas continuarão zunindo e matando, pois entre o mal e a chegada do remédio milagroso o caminho é longo e feito de pedras. "A longo prazo, estaremos todos mortos", advertia Keynes. Separa-nos da justiça social esta corrupção vitoriosamente impune, que fez sua casamata em instituições fundamentais da República, envolvendo no círculo de ferro os recém-chegados ao festim do poder, com as suas sinecuras e deslumbramentos. O sistema político que alça as trupes aos palácios e parlamentos já as conduz inoculadas do vírus da podridão: caixa-dois e compromissos urdidos à revelia dos eleitores. Os mandatos eletivos há muito são produto a ser conquistado mediante grana, acordos e truques publicitários. As idéias e programas de partido não passam de uma cereja inútil no bolo. Somente o plano maior, totalitário, subsiste escondido aos olhos do povo. Quando finalmente se realizar, ai de todos quanto prezam a liberdade. Se o que resta da oposição de verdade não ajudar a remover as ervas daninhas, será mais fácil convencer os lobos famintos a pastar mansamente do que alcançar a justiça social com liberdade.

Esperando o trem que não vem, que não vem...

A população, em especial os pobres, estão com medo. Não pode esperar pela distribuição de renda, que nunca chegou, nem se sabe quando virá. A preocupação óbvia e ululante é com o dia seguinte, é se os nossos filhos voltarão vivos da escola e dos passeios, e nós, do trabalho. E posto que está interditado distribuir renda em país de mensaleiros, que pelo menos nos seja possível viver em paz.
Por isso, enquanto os demagogos e totalitários apontam para as miragens, contentemo-nos, por ora, com reformar e equipar as polícias, extirpar a corrupção que faz alguns policiais bandidos, e assegurar salários decentes àqueles a quem cabe proteger os cidadãos.
O imediato retorno do Estado à segurança pública e a reforma penitenciária são o primeiro passo, urgente. Eficaz e contínuo combate à corrupção no serviço público. Numa palavra, tudo que os mercadores de ilusões não querem ouvir e menos ainda falar, enquanto preparam o caminho para o totalitarismo, relativizando os valores morais, desorganizando de dentro as instituições da República e disseminando a confusão e a anomia.
As sementes do mal foram lançadas à terra, e as flores já despontam. Precisamos arrancá-las pela raiz. Teremos jardineiros lúcidos enquanto há tempo?


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