08 junho 2011

A Violência Cai como Um Raio









"Eu Via Satanás Cair Como Um Raio"
René Girard, antropólogo, historiador e filólogo francês





Aí está uma recomendação de leitura aos amigos deste blog. Trata-se da tradução brasileira de um livro da monumental obra do francês René Girard, publicado em francês sob o título: Je Vois Satan Tomber Comme L'Éclair. Em português: "Eu Via Satanás Cair Como um Raio".



Em dias de violência sem controle também no Brasil, Girard expõe uma teoria inédita e solidamente amparada em documentos históricos sobre a violência e seus mecanismos causadores. Deixa para trás a psicanálise, o estruturalismo e o marxismo de uma só penada. Vejamos brevemente:



A Violência Explode



A violência, diz René Girard, é epidemia. Uma vez deflagrada, rompe todos os controles e ameaça extinguir a coletividade inteira. A causa da violência é a rivalidade mimética. Mimetismo é imitação. Os homens imitam-se uns aos outros desde o nascimento. Até o próprio desejo é imitação de outro desejo; desejamos o que os outros também desejam. E o nosso próximo, ao ver que desejamos o que ele já possui, reage aumentando ainda mais o desejo da coisa possuída. O desejo de ter as coisas dos outros é sempre mimético. Nasce daí a rivalidade mimética - ela é a causa primeira da violência. O imitador vai rapidamente da admiração à rivalidade com o imitado, que se torna então um obstáculo a ser suprimido. A violência assume a forma de desentendimentos e brigas para remover o obstáculo, até explodir no banho de sangue.
A Violência nos primórdios da civilização



Por isso, as sociedades primitivas tinham no sangue vertido um tabu. Temiam a eclosão da epidemia - e o sangue vertido representava grave ameaça de contágio, que envolvia a todos, como as pestes. Não separavam a violência da peste.



O Bode Expiatório



Para repor a paz ameaçada, surge a figura do inocente a ser sacrificado, que receberá sozinho a culpa de todos. O processo é inconsciente, já que os homens vêem não a si próprios, mas o outro, como o culpado: é a figura do bode expiatório. Após o sacrifício do inocente, imaginado como verdadeiro culpado pelos linchadores, a paz retorna. Para tudo recomeçar novamente, até eclodir nova onda de violência, que desemboca na execução de um novo bode expiatório. A vingança chama a vingança numa espiral sem fim.



A face escura do mal - Moisés interdita a violência



Girard vê a chave verdadeira para a comprensão da violência no texto bíblico. Ao interditar os desejos miméticos ("não desejarás as coisas do teu próximo, nem a mulher dele, nem seus animais"...), a lei mosaica dos Dez Mandamentos mostrava a profunda compreensão da gênese da violência, completando-se com a prédica cristã que interdita a vingança, estancando assim a epidemia de violência ("não te digo que perdoarás teus ofensores sete vezes, mas setenta vezes sete" - isto é, sempre). Os evangelhos, segundo Girard, revelam a falsidade de todos os mitos, que mentem ao justificarem uma certa "violência redentora" contra a violência má. Assim, os textos bíblicos redimem todos os inocentes sacrificados. Cristo anunciava a Verdade, somente ela podendo libertar os homens do círculo de ferro do Mal, isto é, da epidemia de violência. Daí: "Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará".

Conclusão



O Mal é, portanto, a violência que a todos envolve e aprisiona, e deve ser primeiro compreendido para ser afastado - eis aí, segundo René Girard, a importância fundamental e a superioridade inquestionável dos textos bíblicos que decifraram a esfinge maligna para levantar as melhores civilizações, com a abolição dos ritos sacrificiais humanos, colocando o direito à vida no mais elevado plano. Dito de outro modo: "Não matarás". Da obra deste pensador francês, conclui-se que onde os textos bíblicos não estão na base da civilização, persistem os ritos sacrificiais humanos e o desprezo à vida, como é o caso dos totalitarismos à direita e à esquerda. Voilà! À bas la violence, vive la vie!

Um comentário:

Moacir Leão disse...

Obrigado, Correa, pelo feedback. Espero publicar alguns desenvolvimentos da obra do Girard, que é um dos pensadores mais profundos dos nossos dias, na minha opinião.